João é um avatar que ajuda os surdos a andar de metro
Investigadores do ISEP criaram tradutor para as línguas gestuais de seis países. A partir de hoje nos Aliados
Os surdos que viajam de metro vão ter, a partir de hoje, um tradutor para língua gestual que permite aceder a informação detalhada sobre a rede. Se forem portugueses, contam com a ajuda do João, o avatar que aparece num ecrã a fazer a tradução das questões pré-estabelecidas. Mas os passageiros podem até ser cipriotas, eslovenos ou alemães, pois o sistema contempla vários idiomas. Com assinatura de investigadores do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), o equipamento está na estação dos Aliados.
Duas questões prévias: cada país tem uma língua gestual própria e os surdos, em geral, não têm a mesma capacidade que têm os ouvintes para ler a língua materna escrita. Foi a pensar nestas dificuldades que surgiu o tradutor que hoje será inaugurado, às 10.15 horas, na presença de muitas das pessoas que contribuíram para o projeto, incluindo surdos dos países parceiros: Alemanha, Inglaterra, Eslovénia, Grécia e Chipre.
O dispositivo recorre às perguntas frequentes da rede metro. Se um passageiro grego quer saber quanto custa um andante, escolhe primeiro o idioma escrito, depois o tema e por fim a pergunta. A cada clique, de imediato o avatar Yannis traduz a questão para a língua gestual grega e a resposta aparece também escrita em rodapé. Isto quer dizer que os utilizadores que ouvem podem igualmente usar o tradutor, desde que falem uma das seis línguas disponíveis, desde logo o português.
ATÉ DÁ PARA DIALETOS
“O que fizemos foi criar uma ferramenta que permite configurar a língua gestual para qualquer país e, inclusivamente, no mesmo país podemos ter configurações de dialetos distintos para língua gestual”, refere ao JN Paula Escudeiro, docente e investigadora do ISEP que assina, com Nuno Escudeiro, a autoria e a coordenação deste trabalho, uma das três vertentes saídas da investigação iniciada pela mesma equipa há mais de cinco anos e que resultou no “Virtual Sign”, projeto que teve como principal produto um tradutor bidirecional.
O “Virtual Sign” permitiu criar um avatar e uma luva que incorpora 14 sensores, que o surdo usa para fazer perguntas. Esse sistema vai ser implementado em 670 institutos federais do Brasil, com tradução para a língua brasileira de sinais. No próximo ano, a dupla de investigadores conta ter concluída uma outra vertente do tradutor, que permitirá um surdo comunicar com um cego. Segundo Paula Escudeiro, o santuário de Fátima demonstrou interesse em ter um equipamento igual ao do metro.
O avatar João fica nos Aliados durante três meses. Fonte da empresa Metro do Porto disse ao JN que a disponibilidade para acolher este ensaio “foi imediata e total”, na linha da filosofia, seguida desde 2002, de ter “um sistema 100% acessível”. No fim do período experimental, será feita uma avaliação do impacto, para se aferir se o João é para ficar.