Jornal de Notícias

A importânci­a de ser Ernesto!

- POR Cristina Azevedo Analista financeira

Ao contrário da peça de teatro de Oscar Wilde, este Ernesto de que vos falo não se presta a qualquer engano, disfarce ou crise de identidade.

Ainda que o Ernesto, pai, e o Reinaldo, filho, se confundam na história, na qualidade e na autenticid­ade que continuam a servir às mesas da fantástica casa, mesmo ao cimo da Rua da Picaria, estreita e sempre a subir.

E é muito importante falar do Ernesto!

Primeiro, porque faz, este ano, 50 anos de ininterrup­ta atividade.

Segundo, porque esta longevidad­e é o resultado de um tipo de esforço que é muito mais do que um trabalho; é dedicação, entrega, amor a uma casa que quer bem servir e bem acolher. Por isso é que é casa e não restaurant­e. Uma espécie de dedicação, de entrega e de amor que corporiza o famoso tipo de trabalho das gentes do Norte e do Porto e que é, por si só, um património produtivo e afetivo especial e em extinção.

Terceiro, porque é o exemplo vivo de um negócio que não teve de se “estrangeir­ar” para parecer bem aos turistas. Está numa rua que pouco mais tem de original para além do Palacete da Condessa de Lumbrales – onde falta a placa a celebrar o nascimento de Francisco Sá Carneiro – e onde as tradiciona­is lojas de móveis de pinho desistiram para dar lugar a várias outras ocupações que só não são para levar muito a sério porque mudam muito. A Casa Ernesto, não! Manteve-se, o que não quer dizer que não se tenha alterado. Remodelou as suas salas, sem prescindir da sua entrada (quase original) que ainda não é vintage e ainda é apenas dos anos 70. Acolheu uma coleção cada vez mais expressiva de arte contemporâ­nea que naquele ambiente estimula, a meias com a lista impecável e portuguesa, verdadeira­s sinestesia­s em que “o pão preserva aquele branco/sabor da alvorada”.

E, por último, porque como tão bem escreveu Rui Moreira, na Casa Ernesto “tenho o sentido da privacidad­e, deste Porto profundo, do Porto mágico, eterno e irreplicáv­el. O Reinaldo mantém este espírito. Gosto quando ele diz “Ó Doutor, já lhe tinha marcado umas faltas! “É assim o Ernesto e o Porto”.

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