A importância de ser Ernesto!
Ao contrário da peça de teatro de Oscar Wilde, este Ernesto de que vos falo não se presta a qualquer engano, disfarce ou crise de identidade.
Ainda que o Ernesto, pai, e o Reinaldo, filho, se confundam na história, na qualidade e na autenticidade que continuam a servir às mesas da fantástica casa, mesmo ao cimo da Rua da Picaria, estreita e sempre a subir.
E é muito importante falar do Ernesto!
Primeiro, porque faz, este ano, 50 anos de ininterrupta atividade.
Segundo, porque esta longevidade é o resultado de um tipo de esforço que é muito mais do que um trabalho; é dedicação, entrega, amor a uma casa que quer bem servir e bem acolher. Por isso é que é casa e não restaurante. Uma espécie de dedicação, de entrega e de amor que corporiza o famoso tipo de trabalho das gentes do Norte e do Porto e que é, por si só, um património produtivo e afetivo especial e em extinção.
Terceiro, porque é o exemplo vivo de um negócio que não teve de se “estrangeirar” para parecer bem aos turistas. Está numa rua que pouco mais tem de original para além do Palacete da Condessa de Lumbrales – onde falta a placa a celebrar o nascimento de Francisco Sá Carneiro – e onde as tradicionais lojas de móveis de pinho desistiram para dar lugar a várias outras ocupações que só não são para levar muito a sério porque mudam muito. A Casa Ernesto, não! Manteve-se, o que não quer dizer que não se tenha alterado. Remodelou as suas salas, sem prescindir da sua entrada (quase original) que ainda não é vintage e ainda é apenas dos anos 70. Acolheu uma coleção cada vez mais expressiva de arte contemporânea que naquele ambiente estimula, a meias com a lista impecável e portuguesa, verdadeiras sinestesias em que “o pão preserva aquele branco/sabor da alvorada”.
E, por último, porque como tão bem escreveu Rui Moreira, na Casa Ernesto “tenho o sentido da privacidade, deste Porto profundo, do Porto mágico, eterno e irreplicável. O Reinaldo mantém este espírito. Gosto quando ele diz “Ó Doutor, já lhe tinha marcado umas faltas! “É assim o Ernesto e o Porto”.