Barbaridade entre doutores
A agressão de dois alunos de Ciências Biomédicas da Universidade da Beira Interior veio revelar a existência, há pelo menos 11 anos, de um ritual exercido por uma “irmandade” que vai muito além dos limites do código definido pela universidade. De acordo com uma estudante da Faculdade de Ciências da Saúde, o grupo é constituído por atuais e antigos alunos de Ciências Biomédicas. “Obrigam os caloiros a despir-se e batem-lhes até com pás quando não respondem certo às perguntas que lhes fazem”, conta a estudante.
Que barbaridade. Ao abrigo da praxe, praticam-se atos criminosos e nazis. Mas é preciso dizer que a própria praxe, e nós sempre nos batemos contra ela, é em si mesma uma estupidez e algo de extremamente reacionário. Desde logo porque se estabelece uma divisão classista entre veteranos, doutores e caloiros, como se uns tivessem mais direitos do que os outros, como se uns estivessem às ordens dos outros. A pretexto de uma pretensa integração, os caloiros são obrigados a brincadeiras ridículas e a atropelos à dignidade humana só porque entram na faculdade numa posição de fragilidade. Essa lógica da manada, do rebanho, leva a que oscaloiros, muitas vezes, no ano seguinte, praxem os novos estudantes do 1.0 ano. No fundo, está presente uma grande mesquinhez.
ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO apedroribeiro@hotmail.com