Jornal de Notícias

Milionário­s deixam dívidas superiores a 1,5 mil milhões

Sete insolvênci­as particular­es superam o passivo dos três grandes do futebol português Empresário da construção e antigo presidente da Naval 1.o de Maio no topo da lista das falências

- Paulo Ribeiro Pinto paulo.pinto@dinheirovi­vo.pt

DÍVIDAS Dava para construir uma nova Ponte Vasco da Gama e supera o passivo dos três grandes do futebol português. Usando o duplo critério da dimensão das dívidas e da importânci­a social dos visados, o JN/Dinheiro Vivo concluiu que o valor das maiores insolvênci­as de particular­es conhecidas atingiu nos últimos anos mais de 1,5 mil milhões de euros. Correspond­e a 0,7% do PIB previsto para este ano. Muitas confundem-se e resultam da queda de grandes grupos económicos, mas as maiores falências de particular­es são de figuras praticamen­te desconheci­das do grande público.

O primeiro caso publicitad­o de uma figura pública a apresentar falência foi Cardoso e Cunha. O engenheiro ficou conhecido como Comissário da Expo-98, mas também teve cargos políticos: foi dirigente do PSD e ministro das Agricultur­a e Pescas de governos liderados por Francisco Sá Carneiro e Francisco Balsemão. O processo judicial contra Cardoso e Cunha foi desencadea­do em 2004 pelo Banco Totta & Açores (atual Santander Totta) que requereu, junto do Tribunal do Comércio, a falência pessoal do então empresário. O antigo Comissário Europeu e ex-presidente da TAP decretou falência em 2006. Em causa estavam créditos não liquidados.

Os casos de figuras públicas envolvidas em processo de falência ganharam relevância nos últimos anos, sobretudo depois da crise financeira (2008) que arrastou muitos empresário­s, em concreto ligados ao setor da construção e do imobiliári­o. O processo com maior dimensão, pelos valores envolvidos, diz respeito a Emídio Catum, um discreto empresário que pediu a insolvênci­a pessoal no dia 9 de julho do ano passado. No processo, solicitou o perdão da dívida de 697 milhões de euros. Créditos que, na grande maioria, pertencem à empresa pública Parvalorem que gere os ativos tóxicos que sobraram do antigo BPN.

O mais recente caso conhecido é o de Diogo Vaz Guedes. O gestor e empresário pediu a insolvênci­a no final de setembro deste ano por não conseguir fazer face às dívidas. O ex-presidente da construtor­a Somague foi também sócio do presidente da EDP, António Mexia, no projeto hoteleiro Aquapura que entrou igualmente em insolvênci­a. Entre os credores encontram-se a Caixa Geral de Depósitos, o Haitong Bank (ex-BESI) e o Novo Banco. De resto, o banco que resultou do colapso do BES já tinha avançado há cerca de um ano com uma ação de execução para cobrar uma dívida de 4,3 milhões de euros.

Mais mediático foi o caso de Vale e Azevedo, o ex-presidente do Benfica que foi declarado insolvente em 2014 pelo Tribunal de Sintra. A empresa “Vale e Azevedo Capital Consultado­ria e Gestão Empresaria­l, SA” detida pelo antigo dirigente benfiquist­a também foi declarada insolvente em outubro de 2016, sendo o processo encerrado em dezembro do ano passado.

ESTATÍSTIC­A DOS CASOS

Nos primeiros três meses deste ano, foram decretadas mais de 3358 insolvênci­as de famílias. Um número que correspond­e a quase 73% de todos os casos de falências entre pessoas singulares e empresas. Ou seja, mais de sete em cada dez são de particular­es ou de famílias. Esta preponderâ­ncia face às empresas começou a verificar-se a partir de 2012, pico da crise. Por exemplo, no ano passado, foram fechados nos tribunais 13760 processos de falência, insolvênci­a e de recuperaçã­o. Destes, mais de 10 mil diziam respeito a particular­es ou famílias e apenas 3747 a empresas.

A esmagadora maioria envolve valores relativame­nte pequenos. De acordo com os dados mais recentes divulgados pela Direção-Geral da Política de Justiça, referentes ao primeiro trimestre deste ano, mais de 80% dos casos têm valores entre os 1000 euros e os 49 999 euros.

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