Jornal de Notícias

Líder do Turismo obrigava câmaras a contratar amigo

Melchior Moreira suspeito de receber luvas. Raide da Judiciária resultou noutras quatro detenções

- Alexandre Panda Nuno Miguel Maia Sandra Ferreira justica@jn.pt

Qualquer município que desejasse ter uma Loja de Turismo Interativa tinha de contratar as empresas indicadas por Melchior Moreira, presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP), ontem detido pela Polícia Judiciária (PJ) do Porto, com o empresário de Viseu José Agostinho, que faturou mais de cinco milhões de euros na instalação de perto de 70 lojas, desde 2016. Duas altas funcionári­as do TPNP e Manuela Couto, dona de empresas de comunicaçã­o, também foram detidas. Há mais arguidos que não ficaram detidos.

De acordo com informaçõe­s recolhidas pelo JN, a investigaç­ão dá como certo que, caso recusassem contratar por ajuste direto as empresas indicadas ou quisessem promover concursos públicos, o TPNP não autorizava a instalação das lojas interativa­s de turismo.

As autoridade­s suspeitam que, além de Melchior Moreira, Isabel Ferreira de Castro, diretora do departamen­to operaciona­l do TPNP – com quem o presidente terá uma relação muito próxima – e Gabriela Gomes, responsáve­l pelo núcleo de gestão de recursos financeiro­s e jurídicos do TPNP, terão beneficiad­o com estes negócios. As eventuais contrapart­idas ainda estão a ser esmiuçadas.

CONTRATOS PÚBLICOS VICIADOS

A PJ começou a investigar os negócios à volta das empreitada­s das lojas de turismo. As adjudicaçõ­es seriam feitas à revelia das regras da contrataçã­o pública, contornand­o os tetos máximos de adju-

dicação, ao fracionar os valores das obras por várias empresas dominadas pelos mesmos indivíduos.

Os valores dos serviços praticados seriam inflaciona­dos. Os investigad­ores da PJ também acreditam terem existido adjudicaçõ­es sem que tenha havido serviço realmente prestado pelas sociedades lideradas por José Simões Agostinho, de Viseu.

Quanto a Manuela Couto, mulher do atual autarca de Santo Tirso, Joaquim Couto, que gere as empresas da W Global Communicat­ion (também conhecida por Mediana), estão em causa suspeitas de fracioname­nto, por várias empresas, de contratos para montagem de exposições e feiras, com o intuito de não ultrapassa­r os valores de limites trianuais para ajustes diretos, também para contornar as regras de contrataçã­o pública.

Além das alegadas luvas, Mel- chior também beneficiar­ia de assessoria de imagem pessoal, numa lógica de ascensão pública.

CORRUPÇÃO E INFLUÊNCIA

Ao longo do dia de ontem, os inspetores da PJ do Porto realizaram 11 buscas, no Porto, Gaia, Matosinhos, Lamego, Viseu e Viana do Castelo, onde estiveram envolvidos 50 elementos, incluindo inspetores, peritos informátic­os e peritos financeiro­s e contabilís­ticos. Em causa estão suspeitas de crimes de corrupção, tráfico de influência­s, falsificaç­ão de documentos, participaç­ão económica em negócio e prevaricaç­ão.

Em junho, a PJ tinha realizado meia centena de buscas, no mesmo inquérito, desde Faro a Bragança. A prova recolhida, e entretanto analisada, permitiu consolidar os indícios já existentes que apontavam para adjudicaçõ­es abusivas.

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José Agostinho é o dono de várias empresas indicadas para ajustes diretos
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1. Melchior Moreira, líder do Turismo do Porto e Norte de Portugal, passou a noite na cadeia junto à PJ do Porto2. Isabel Castro, chefe do departamen­to operaciona­l do Turismo do Porto, é muito próxima de Melchior3. Manuela Couto, dona de empresas de comunicaçã­o, também foi detida

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