Metade dos alunos do profissional foram trabalhar
Jovens no pós-Secundário em 2017 Maioria é proveniente de famílias com baixa escolaridade. Um quinto conseguiu continuar estudos
É a confirmação de um sistema de ensino ainda pouco inclusivo. No ano passado, mais de metade dos alunos que tinham concluído um curso profissional de nível secundário estavam a trabalhar. Já a quase totalidade dos que concluíram o Secundário via cursos científico-humanísticos (CCH) prosseguiram os estudos. A condição socioeconómica continua a ser determinante. E todos concordam que urge alargar a base social do Ensino Superior com vista a uma maior equidade.
De acordo com o estudo “Jovens no Pós-Secundário em 2017”, produzido pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), dos quase 68 mil alunos que concluíram o secundário no ano passado, 63,2% estavam a estudar. Sendo que, sublinham os autores, “22% estavam a trabalhar, 6,8% estudavam e trabalhavam ao mesmo tempo e, por último, 6,4% estavam à procura de trabalho e não estavam a estudar”.
A questão é que os quase dois terços que prosseguiram estudos são sustentados pelo alunos de CCH, com 91,8% a frequentar o superior – 6,8% dos quais eram trabalhadores-estudantes – e apenas 5% a trabalhar. Já em sentido inverso, 51,4% dos alunos que concluíram em 2015/2016 um curso profissional estavam a trabalhar, o que representa um aumento de 2,8 pontos percentuais face ao inquérito realizado pela DGEEC em 2016. Contra um quinto dos jovens que estavam exclusivamente a estudar (ver infografia).
Um resultado, lê-se no documento da DGEEC, “sem surpresas, alinhado com os objetivos desta modalidade de ensino”. Mas que traz também, segundo o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCSIP), boas notícias. “No inquérito de 2014/2015 cerca de 12 a 13% destes alunos estavam a estudar, ou seja, quase duplicou, é um processo estrutural”, explica ao JN Pedro Dominguinhos.
ALARGAR A BASE SOCIAL
A condição socioeconómica continua a ser um fator preditor. De acordo com os resultados do inquérito realizado pela DGEEC (ler ao lado), “os jovens que se encontravam apenas a trabalhar eram provenientes, principalmente, de famílias com escolaridade mais baixa – 60% com formação igual ou inferior ao Ensino Básico e apenas 30% com Ensino Superior”. Já do lado dos alunos que ingressaram no Superior via CCH, “quanto mais elevadas eram as habilitações escolares dos núcleos familiares, mais os jovens referiam estar a estudar”.
“Persiste um determinismo social que obriga a um trabalho ao nível da sociedade de empoderamento das famílias, fazê-las perceber que estudar compensa”, afirma Pedro Dominguinhos. O próprio ministro da Ciência e Ensino Superior, em entrevista recente ao JN, admitiu que a seleção dos estudantes que ingressam no Superior “deveria ser mais inclusiva”.
O que passa, comentava então Manuel Heitor, por “alargar a base social de recrutamento da instituições”. Segundo o governante, “o grande défice é nas vias profissionais, também pelo perfil sociocultural dessas famílias, com muitos desses jovens a terem uma pressão social para irem trabalhar”. Os reitores, por sua vez, já vieram a público defender mudanças no modelo de acesso ao Superior, mas que o ministro Manuel Heitor pôs já de parte.
Independência
A maioria dos estudantes do profissional foi trabalhar para ter autonomia financeira. Mas há ainda 17,4% que o fizeram por dificuldades económicas.
Inquérito da DGEEC
A edição de 2017 do inquérito, feito entre outubro de 2017 e maio deste ano, “é censitária e visa retratar o percurso de 67 410 jovens após conclusão do Secundário”.