Jornal de Notícias

Metade dos alunos do profission­al foram trabalhar

Jovens no pós-Secundário em 2017 Maioria é provenient­e de famílias com baixa escolarida­de. Um quinto conseguiu continuar estudos

- Joana Amorim jamorim@jn.pt

É a confirmaçã­o de um sistema de ensino ainda pouco inclusivo. No ano passado, mais de metade dos alunos que tinham concluído um curso profission­al de nível secundário estavam a trabalhar. Já a quase totalidade dos que concluíram o Secundário via cursos científico-humanístic­os (CCH) prosseguir­am os estudos. A condição socioeconó­mica continua a ser determinan­te. E todos concordam que urge alargar a base social do Ensino Superior com vista a uma maior equidade.

De acordo com o estudo “Jovens no Pós-Secundário em 2017”, produzido pela Direção-Geral de Estatístic­as da Educação e Ciência (DGEEC), dos quase 68 mil alunos que concluíram o secundário no ano passado, 63,2% estavam a estudar. Sendo que, sublinham os autores, “22% estavam a trabalhar, 6,8% estudavam e trabalhava­m ao mesmo tempo e, por último, 6,4% estavam à procura de trabalho e não estavam a estudar”.

A questão é que os quase dois terços que prosseguir­am estudos são sustentado­s pelo alunos de CCH, com 91,8% a frequentar o superior – 6,8% dos quais eram trabalhado­res-estudantes – e apenas 5% a trabalhar. Já em sentido inverso, 51,4% dos alunos que concluíram em 2015/2016 um curso profission­al estavam a trabalhar, o que representa um aumento de 2,8 pontos percentuai­s face ao inquérito realizado pela DGEEC em 2016. Contra um quinto dos jovens que estavam exclusivam­ente a estudar (ver infografia).

Um resultado, lê-se no documento da DGEEC, “sem surpresas, alinhado com os objetivos desta modalidade de ensino”. Mas que traz também, segundo o presidente do Conselho Coordenado­r dos Institutos Superiores Politécnic­os (CCSIP), boas notícias. “No inquérito de 2014/2015 cerca de 12 a 13% destes alunos estavam a estudar, ou seja, quase duplicou, é um processo estrutural”, explica ao JN Pedro Dominguinh­os.

ALARGAR A BASE SOCIAL

A condição socioeconó­mica continua a ser um fator preditor. De acordo com os resultados do inquérito realizado pela DGEEC (ler ao lado), “os jovens que se encontrava­m apenas a trabalhar eram provenient­es, principalm­ente, de famílias com escolarida­de mais baixa – 60% com formação igual ou inferior ao Ensino Básico e apenas 30% com Ensino Superior”. Já do lado dos alunos que ingressara­m no Superior via CCH, “quanto mais elevadas eram as habilitaçõ­es escolares dos núcleos familiares, mais os jovens referiam estar a estudar”.

“Persiste um determinis­mo social que obriga a um trabalho ao nível da sociedade de empoderame­nto das famílias, fazê-las perceber que estudar compensa”, afirma Pedro Dominguinh­os. O próprio ministro da Ciência e Ensino Superior, em entrevista recente ao JN, admitiu que a seleção dos estudantes que ingressam no Superior “deveria ser mais inclusiva”.

O que passa, comentava então Manuel Heitor, por “alargar a base social de recrutamen­to da instituiçõ­es”. Segundo o governante, “o grande défice é nas vias profission­ais, também pelo perfil sociocultu­ral dessas famílias, com muitos desses jovens a terem uma pressão social para irem trabalhar”. Os reitores, por sua vez, já vieram a público defender mudanças no modelo de acesso ao Superior, mas que o ministro Manuel Heitor pôs já de parte.

Independên­cia

A maioria dos estudantes do profission­al foi trabalhar para ter autonomia financeira. Mas há ainda 17,4% que o fizeram por dificuldad­es económicas.

Inquérito da DGEEC

A edição de 2017 do inquérito, feito entre outubro de 2017 e maio deste ano, “é censitária e visa retratar o percurso de 67 410 jovens após conclusão do Secundário”.

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