Instrutor gozou com preocupação por recruta morto
Instruendo do mesmo grupo de Hugo Abreu relatou o que viu
“Agora és enfermeiro?” Terá sido assim que o primeiro-sargento Ricardo Rodrigues reagiu quando um recruta do grupo pelo qual era responsável lhe disse que Hugo Abreu, um dos dois instruendos do Curso de Comandos falecidos em 2016, não se encontrava bem.
A troca de palavras, relatada ontem em tribunal por um outro recruta do mesmo curso, Rodrigo Seco, terá acontecido já depois de o jovem, à data com 20 anos, ter passado por momentos em que só cuspia e ria, ter caído inanimado quando entrava para a parte de trás de uma carrinha e ter começado, já no interior do veículo – para onde foi transportado em braços pelos seus colegas por suposta ordem de Ricardo Rodrigues – a revirar os olhos e a enrolar a língua.
Num depoimento longo, o sargento foi, a par do outro responsável pelo grupo de graduados a que pertenciam Hugo Abreu e Rodrigo Seco, tenente Hugo Pereira, um dos mais visados pelo jovem, que se constituiu assistente no julgamento dos 19 militares acusados de 539 crimes relacionado com a morte dos dois recrutas do 127.0 Curso dos Comandos.
Segundo a testemunha, ao longo do primeiro dia da chamada Prova-Zero, a 4 de setembro de 2016, os sinais de fadiga dos instruendos, incluindo os seus, foram várias vezes desvalorizados pelos instrutores, que chegaram a castigar um recruta por pedir para beber água.
O óbito de Hugo Abreu viria a ser declarada às 21.45 horas daquele dia, na tenda médica do Campo de Tiro de Alcochete. Seis dias depois, morreu, já no hospital, Dylan da Silva, também de 20 anos. Ontem, os seus pais relataram a existência de agressões antes do início do Curso dos Comandos.
40 mil euros por lesões
Rodrigo Seco pede uma indemnização de 40 mil euros, devido às lesões que sofreu. Os familiares dos dois recrutas também pretendem ser ressarcidos.