Lágrimas e dor no adeus ao pescador
Mestre continua internado no hospital e os outros três tripulantes estão ainda desaparecidos
“Ai Manel! O mar levou-te, Manel!”. À porta da igreja de Nossa Senhora das Neves, em Aver-o-Mar, Póvoa de Varzim, os gritos de Maria Alves entoaram bem alto. A sogra de António Manuel Sousa vivia com ele há 31 anos. Já se tinha habituado ao seu amor pelo mar, à vida com “o coração nas mãos” à espera do telefonema que anunciava a chegada a terra, mas, desta vez, o telefone não tocou. O pescador de 52 anos morreu na segunda-feira no naufrágio do “Mestre Silva”, ao largo de Esmoriz.
António Fangueiro e os indonésios Mohamad Joni e Ardiansyah Nasution continuam desaparecidos. Só o mestre, Rafael Silva, escapou. Permanece internado no Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga.
Homens de fé, ontem os pescadores uniram-se na dor. A igreja foi pequena para as centenas que se juntaram no último adeus a António Manuel Sousa. Rostos lavados em lágrimas, num silêncio só interrompido pelos gritos de Maria, a comunidade piscatória chorou a partida de mais um dos seus. “A gente vai e nunca sabe se volta”, atirava um pescador à saída da igreja, enquanto limpava os olhos. Podia ser ele. Podia ser um dos seus e, por isso, também foi levar um abraço solidário.
António Sousa trabalhou quase duas décadas em Espanha e depois no Panamá, em barcos maiores, onde as fainas duram meses e os salários são melhores. Há dois anos, decidiu ficar mais perto de casa. Estava no “Mestre Silva” há “poucos meses”. Foi resgatado três horas depois do naufrágio, já sem vida. Resta o “consolo” de ter aparecido o corpo. “Pelo menos, puderam fazer o funeral”, remata o velho pescador.