59 anos de um Telejornal que nasceu em 1959
O programa mais antigo da televisão portuguesa celebrou ontem 59 anos. Nasceu a 18 de outubro de 1959 e, desde então, constituiu-se como uma âncora da grelha do primeiro canal generalista da TV portuguesa. O seu nome, Telejornal, confunde-se com o género televisivo. Nestes anos, foi ali, na RTP1, que parte de nós pontuou a importância daquilo que ia acontecendo no país e no Mundo. Ainda assim é, embora o atual ambiente mediático seja mais diversificado, o que relativiza a sua centralidade. No entanto, é exatamente isso que torna os desafios ainda maiores.
Podemos fixar quatro períodos na história do Telejornal da RTP: o da censura, o do monopólio em regime democrático, o da concorrência e o da pós-TV. São marcos importantes que ajudam a perceber o percurso da televisão portuguesa, a conhecer a sociedade que fomos construindo e a compreender a evolução do jornalismo. É obra.
1959-1973: Período da censura. Eis o Telejornal como ritual de legitimação do poder político, a espelhar um país vagaroso, vergado a hierarquias e preso a tradições. Percorrendo os alinhamentos da altura, encontrámos um jornalismo que confundia munícipes com paroquianos, que arriscava preencher uma edição com a divulgação das listas da União Nacional às eleições nacionais (8 de outubro de 1965), que tratava os governantes como “nossos ministros”, que promovia campanhas de apoio aos soldados enviados para as Colónias e que transmitia apelos de ajuda individual...
1974-1991: Período do monopólio em regime democrático. Nesta linha temporal, cabem a revolução de abril e a instabilidade que decorria dos primeiros passos em liberdade. E cabe igualmente a aprendizagem de um jornalismo que se abre a uma ideia de atualidade que tem os assuntos do dia como principal referência. Ainda estamos longe do primado do direto, mas caminha-se progressivamente para uma agilidade de um noticiário onde a importância começa a desenhar-se como um valor-notícia.
1992-2000: Período da concorrência. Com o aparecimento da SIC em outubro de 1992, a RTP percebeu que havia mudanças a fazer. O Telejornal era uma poderosa âncora de audiências e foi, durante anos, um importante
Neste aniversário do Telejornal, é tempo de pensar o futuro que se enche de desafios que cruzam vários campos sociais. Hoje o noticiário televisivo preenche-se com um jornalismo estruturado pelos valores-notícia de sempre, mas a ele juntamse a exigência de novas linguagens a impor um outro modo de dizer e de mostrar a realidade
instrumento de contraprogramação. Sentia-se na velha Redação da 5 de outubro em Lisboa um esforço colossal para que o noticiário fosse o primeiro a noticiar a última coisa que estava a acontecer. As peças tornavam-se mais curtas, o grafismo mais valorizado, os ângulos imprevistos mais destacados, o direto mais recorrente. O jornalismo televisivo fixava aqui uma das suas maiores evoluções.
2001-2018: A era pós-TV. Os canais do cabo chegavam e consigo transportavam uma informação contínua a exigir mais peças para os alinhamentos noticiosos, mais interlocutores para os plateaux informativos e mais formatos de informação. Nas redações das TV, os jornalistas deixaram de trabalhar ao ritmo dos noticiários da hora do almoço e do jantar. A urgência em formatar a atualidade é acentuada pelo universo digital que vai multiplicando ecrãs e introduzindo uma mobilidade no consumo de notícias que há muito deixou de estar circunscrita aos lugares onde (ainda) temos os tradicionais ecrãs de televisão.
Neste aniversário do Telejornal, é tempo de pensar o futuro que se enche de desafios que cruzam vários campos sociais. Hoje o noticiário televisivo preenche-se com um jornalismo estruturado pelos valores-notícia de sempre, mas a ele juntam-se a exigência de novas linguagens a impor um outro modo de dizer e de mostrar a realidade, o imperativo de uma tecnologia que multiplica ecrãs de informação e a necessidade de conteúdos atrativos e de inegável interesse público. É na capacidade de unir tudo em edições de qualidade que se desenhará o futuro do programa mais antigo da TV portuguesa.