Lições do Brasil
O Brasil é um país exausto e descrente à beira do colapso. 50 milhões de brasileiros votaram num candidato que promete uma ação musculada, violenta, face à situação caótica e à insegurança que lavra no país. Serão esses brasileiros todos fascistas, partidários da extrema-direita? Seguramente, não. São, na maioria, os desiludidos da “política”, cansados de escândalos e da impunidade, atordoados na sobrevivência quotidiana para quem a ideologia são só palavras que nada acrescentam à vida.
Paulo Baldaia dizia, neste jor- nal, que “a perceção de que a corrupção compensa, que os detentores do poder ou da riqueza estão acima da lei, também mata a democracia”. De facto, pode a democracia resistir, ser reconhecida como um valor, quando a corrupção arruína os alicerces do Estado, a justiça se politiza em espetáculo e, na vida, a insegurança e a pobreza reinam?
Bolsonaro não é só o candidato de uma elite económica; é, essencialmente, o herói populista que mobiliza o desespero antissistema de uma massa de gente profundamente inculta, para quem a realidade imediata é a questão. A sua palavra, como a de outros populistas é, pois, básica; não depende da argumentação racional (este é traço “frágil” dos democratas, que assumem a responsabilidade de demonstrar e confrontar ideias). A brutalidade da linguagem, o insulto, as ameaças, a provação estratégica acicatando fraturas, a agressão e o ódio a que temos assistido nas últimas semanas, são forças primárias, maturadas no ressentimento, facilmente mobilizáveis, que não exigem o cansaço de um debate.
No mar avassalador das redes sociais, sem contraditório, a realidade alternativa fabricada não tem de ser verdadeira. Basta a emoção messiânica da nova ordem onde os desiludidos se abrigam. O conteúdo é, pois, irrelevante. Alguém já afirmou que podia disparar em plena baixa de Nova Iorque sem que tal beliscasse a sua popularidade nas sondagens.
As lições que nos chegam do Brasil e numa corrente sinistra de outros lados do Mundo, devem forçar-nos a pensar, porque a corrupção é um vírus e a impunidade a mãe do descrédito.