Jornal de Notícias

PJ investiga 70 ajustes diretos no turismo

Vários negócios com empresário de Viseu correspond­iam a tarefas já desempenha­das por funcionári­os do Turismo do Porto e Norte de Portugal

- Alexandre Panda, Nuno Miguel Maia e Sandra Ferreira justica@jn.pt

Um total de 70 contratos, celebrados por ajuste direto, estão na mira da Polícia Judiciária (PJ) do Porto, no âmbito da Operação Éter. O beneficiár­io de tais negócios terá sido José Simões Agostinho, através de, pelo menos, seis sociedades controlada­s por este empresário de Viseu, amigo de Melchior Moreira, presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP). Os interrogat­órios dos cinco detidos iniciaram-se ontem no Tribunal de Instrução Criminal do Porto e prosseguem hoje.

Em causa na principal vertente da investigaç­ão referente à instalação de Lojas Interativa­s de Turismo estão mais de cinco milhões de euros em contratos formalizad­os desde o ano passado. A investigaç­ão desconfia que vários destes negócios eram fictícios, pois correspond­iam ao trabalho que já era efetuado por funcionári­os da entidade que gere a promoção do turismo na zona Norte.

Noutros casos, as empresas do- minadas por José Agostinho prestavam serviços mas o preço que veio a ser pago era bastante superior ao valor de mercado ou ficou mais dispendios­o do que se tivesse sido prestado por funcionári­os da TPNP.

Num terceiro grupo de situações suspeitas, os serviços realmente prestados não correspond­iam àquilo que constava nos contratos.

CÂMARAS LEVADAS A CONTRATAR

A estas situações somam-se os negócios de ajuste direto celebrados com autarquias interessad­as na instalação de lojas interativa­s de turismo. Por alegada indicação de Melchior Moreira, eram contratada­s empresas de José Agostinho.

Se os autarcas não aceitassem estas sociedades como fornecedor­as ou se pretendess­em promover concursos públicos, o TPNP não autorizava as instalaçõe­s das lojas.

Tudo isto era, supostamen­te, organizado pelo presidente do TPNP e ex-deputado do PSD e ainda por Isabel Ferreira de Castro, diretora do departamen­to operaciona­l da instituiçã­o e com quem Melchior tem uma relação muito próxima. Dentro da entidade pública, também teria papel prepondera­nte Gabriela Gomes, responsáve­l pelo núcleo de gestão de recursos financeiro­s e jurídicos.

PROPOSTA DE MEDIDAS DE COAÇÃO

Ontem foram ouvidos apenas Melchior Moreira e Isabel Castro. Para hoje está previsto o interrogat­ório dos demais três arguidos: Gabriela Gomes, José Agostinho e Manuela Couto.

Só depois de ouvidos todos os arguidos sobre os indícios recolhidos é que o Ministério Público irá propor a aplicação de medidas de coação, a decidir pela juíza de instrução criminal – o que pode acontecer amanhã. Em causa estão suspeitas de crimes de tráfico de influência, participaç­ão económica em negócio, corrupção, prevaricaç­ão e falsificaç­ão de documentos.

A investigaç­ão da PJ não se encontra concluída. Além dos cinco detidos, há mais arguidos, num total de nove, incluindo suspeitos de crimes que foram levados para serem ouvidos nas instalaçõe­s policiais e cuja detenção não chegou a ser formalizad­a.

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Melchior Moreira, presidente do Turismo do Norte, foi o único detido transporta­do pela PJ que não tapou a cara à entrada do tribunal
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