Um Governo de poucochinho
Ficou famosa a forma sarcástica como António Costa qualificou a vitória do PS, então liderado por António José Seguro, nas europeias de 2014: “Quem ganha por poucochinho é capaz de poucochinho”. Ironicamente, não há melhor palavra para qualificar os resultados deste Governo: “poucochinho”.
20 países cresceram mais do que nós na União Europeia. Internacionalmente, entre 190 países, apenas 13 tiveram pior desempenho que nós. Orçamento após orçamento, o Governo anuncia fortes aumentos do investimento público que depois não se concretizam, tendo chegado a atingir mínimos históricos. A descida do défice é, quando comparada com a legislatura anterior, de pouco determinante chinho. Até a recuperação de rendimentos é de poucochinho, como comprova este OE: reformas antecipadas mas adiadas e pequenos aumentos de pensões e salários em boa parte compensados por mais impostos.
Basta poucochinho para o eleitoralismo. Mas será que não deveríamos antes valorizar a descoberta desta responsabilidade orçamental? Premiar a inversão de política de um Governo que começou como o atual Governo italiano e viu os juros aumentar e a economia derrapar? Não serão as críticas um mero misto de frustração e inveja? Frustração, por ser este Governo a beneficiar dos esforços anteriores e de um contexto internacional mais favorável. E inveja, por António Costa ter conseguido fazer da austeridade algo popular... É provável que exista essa frustração. E não excluo algum ressentimento por ver convertida a “chico-esperteza” em virtude política. Mas há um problema de fundo: como se atinge o equilíbrio orçamental é para o crescimento económico e sustentabilidade. Trocar despesa de investimento por despesa corrente, por exemplo, nunca traz boas notícias no futuro. O Governo limita-se a gerir os benefícios decorrentes dos sacrifícios feitos e contexto externo favorável para equilibrar as obrigações europeias com as suas necessidades eleitorais.
Isto explica o poucochinho que cresce a economia e o regresso a uma evolução negativa das contas externas. Esperemos que quando o presidente da República definiu António Costa como irritantemente otimista não falasse do otimismo de “Cândido”, de Voltaire: “A obstinação de achar que tudo está bem quando está mal”. Não quero antecipar um desastre futuro. Quero antes apelar a que não nos resignemos com tão pouco. Mal vai um país que mede o seu sucesso simplesmente por não estar debaixo de intervenção externa. Parafraseando António Costa: quem celebrar tão poucochinho é capaz de poucochinho.
O Governo limita-se a gerir os benefícios decorrentes dos sacrifícios feitos e contexto externo favorável para equilibrar as obrigações europeias com as suas necessidades eleitorais