Enfermeiros juntam fundos para parar cirurgias
Manifestação reuniu milhares no Ministério da Saúde. Profissionais preparam novas formas de luta, caso o Governo não avance com revisão da carreira
Cerca de 7500 enfermeiros, segundo a organização, concentraram-se ontem frente ao Ministério da Saúde, em Lisboa, numa manifestação nacional que marcou o fim da greve de seis dias não consecutivos, que decorreu esta semana e na anterior. Com a mudança de titular na pasta da Saúde a meio deste protesto – Marta Temido substituiu Adalberto Campos Fernandes –, os profissionais dizem esperar que este não seja um pretexto para atrasar ainda mais as negociações para a revisão da carreira e já estão em preparação outras formas de luta.
Uma delas, que está a ser organizada por um grupo de enfermeiros e conta com o apoio de dois sindicatos, é a angariação de fundos para poder parar por tempo indeterminado as cirurgias programadas nos blocos operatórios de três grandes hospitais centrais: Centro Hospitalar de S. João, no Porto, Centro Hospitalar Lisboa Norte (Santa Maria) e Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. O objetivo é ajudar a pagar os dias a quem aderir à greve. Querem chegar aos 300 mil euros e já têm mais de 40 mil.
“O objetivo é ter impacto nas cirurgias programadas e impedir as instituições de cumprirem os seus contratos-programa. Queremos que sejam as instituições a pressionar o Ministério da Saúde para resolver os problemas dos enfermeiros”, adiantou ao JN Lúcia Leite, da comissão instaladora da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE). A iniciativa é também apoiada pelo Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor).
As negociações com o Governo decorrem desde março, mas só em setembro, lembrou José Carlos Martins, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), é que foi apresentada uma proposta que as estruturas sindicais consideraram como “inaceitável”. A primeira reunião com a nova ministra está marcada para 31 de outubro.
Além de uma proposta que “dignifique e valorize” a carreira, os enfermeiros pretendem a revisão das grelhas salariais e a equivalente remuneração que é paga a outros licenciados da administração pública, o descongelamento das progressões, a admissão de mais profissionais para o Serviço Nacional de Saúde e o correto pagamento do suplemento remuneratório aos especialistas. “Não temos carreira nem progressões. Temos sempre de lutar por aquilo que nos insatisfaz”