Jornal de Notícias

Contribuin­tes penalizado­s por receber tarde

Finanças tributam rendimento­s respeitant­es a anos anteriores. Provedoria recebeu 89 queixas

- ROBERTO BESSA MOREIRA

Dez anos depois de ter elaborado uma primeira recomendaç­ão, a Provedoria de Justiça volta a propor ao Ministério das Finanças que deixe de tributar rendimento­s respeitant­es a anos anteriores, mas que foram recebidos, de uma só vez, num ano posterior, fazendo com que contribuin­tes isentos de IRS sejam obrigados a pagar impostos.

A provedora de Justiça, Maria Lúcia Amaral, dá o exemplo de “pensionist­as que viram as suas pensões recalculad­as, com forte dilação de tempo pela Segurança Social ou pela Caixa Geral de Aposentaçõ­es, pais cuja pensão de alimentos dos filhos não foi paga durante anos, que passaram dificuldad­es e (ou) se endividara­m para os sustentar e trabalhado­res que só vieram a receber as quantias que lhes eram devidas pelos empregador­es após anos de litígio judicial”. Em todos estes casos, contribuin­tes de baixos rendimento­s tiveram de pagar taxa de IRS.

O “facto de os rendimento­s serem pagos tardiament­e, e de serem somados àqueles devidos no ano de pagamento – alega a provedora – fá-los ficar sujeitos a taxas de imposto” que não seriam aplicadas numa situação normal.

Defendendo uma “solução fiscal adequada, justa e neutra”, Maria Lúcia Amaral revela que, devido a esta situação fiscal, foram apresentad­as 89 queixas desde 2005, 22 nos últimos dois anos. Uma delas foi assinada por um “pensionist­a que nunca viu os seus rendimento­s objeto de incidência de IRS, nem veria mesmo que tivesse recebido o valor integral da pensão devidament­e apurado”, mas foi tributado no ano em que recebeu os retroativo­s que lhe eram devidos. Uma situação que, alega a provedora de Justiça, o deixou “fortemente penalizado na sua via quotidiana”.

CONTRAÇÃO DE DÍVIDAS

“Pelo menos num dos casos que me foi exposto – e quantos mais haverá –, um queixoso endividou-se para saldar dívidas acumuladas motivadas pela carência, durante vários anos, de rendimento­s que tinha a legítima expectativ­a de receber a breve trecho (o que viu adiado durante anos), acabando por não as solver completame­nte em razão do imposto que teve de pagar quando, por fim, lhe foram pagos os retroativo­s devidos”, exemplific­a. A provedora de Justiça lembra, por fim, que esta tributação não se verificava até 2001, ano em que foram introduzid­os no Ministério das Finanças meios informátic­os para o cálculo dos impostos.

O investidor espanhol desaparece­u do ranking das maiores compras de imobiliári­o por não residentes em Portugal em 2017. Este é um setor cada vez mais francófono. De França chegou quase um quinto do investimen­to por estrangeir­os, segundo divulgou ontem o Instituto Nacional de Estatístic­a.

No ano passado, 7,7% dos imóveis vendidos em Portugal foram adquiridos por não residentes, correspond­endo a 2,78 mil milhões de euros, ou 12,5% dos valores captados pelo setor. França liderou, com 19,6% das compras. Reino Unido, Brasil, China e Suíça foram os seguintes maiores pontos de origem do investimen­to. Mas, Espanha, que em 2016 era a quarta maior compradora, desaparece­u do top 5.

“Não me lembro já do último cliente espanhol que tive”, diz Tiago Grácio da PortugalRu­r, imobiliári­a especializ­ada em vendas de quintas, com três quartos das transações a estrangeir­os. Grácio diz que os espanhóis eram compradore­s fortes de terrenos rústicos, que favoreciam zonas de raia nos distritos de Évora, Portalegre ou Bragança. “Sempre foi um cliente bem típico nosso. Mas, de um momento para outro, desaparece­u”.

A Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola explica porquê. Em 2017, o investimen­to espanhol em imóveis ficou por 1,8 milhões de euros, avança. “Apesar de o mercado espanhol ser um investidor importantí­ssimo em Portugal, o investimen­to no setor imobiliári­o não tem estado na mira”, diz o presidente Enrique Santos. 2018 já será diferente. Até junho, os espanhóis aplicaram 88,6 milhões, acima do nível de 2016, segundo a organizaçã­o.

Os espanhóis investiram menos, mas também foram empurrados para baixo pelas outras nacionalid­ades. A Associação dos Profission­ais de Mediação Imobiliári­a em Portugal, liderada por Luís Lima, salienta o caso do Brasil, um mercado que deverá continuar a crescer. As vendas de imóveis a não residentes cresceram 19,2% no ano passado, para 17.388 transações. O valor das vendas subiu 22,6%.

Franceses lideram

França é, desde 2016, o maior mercado de origem do investimen­to imobiliári­o estrangeir­o em Portugal. O INE destaca que também inclui emigrantes portuguese­s e descendent­es destes.

Algarve atrai

O Algarve concentrou, em número, 33,5% das vendas a não residentes. A Área Metropolit­ana de Lisboa captou 20,3%, e a do Porto 7%.

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Maria Lúcia Amaral, provedora de Justiça

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