Bolsonaro de pedra e cal na liderança
Candidato de extrema-direita reforça conforto nas sondagens, independentemente de denúncias envolvendo notícias falsas
59-41. A fasquia das intenções de voto na segunda volta das presidenciais brasileiras, no dia 28, mantém-se e já nem varia com os institutos de sondagem. Mas há um dado novo: 50% dos inquiridos admitem o risco real de a ditadura regressar ao Brasil.
O candidato do Partido Social Liberal, Jair Bolsonaro, com um discurso de extrema-direita, instalou-se confortavelmente numa margem que dá poucas dúvidas quanto ao desfecho das eleições mais polarizadas e agressivas da jovem democracia brasileira. A 18 pontos de Fernando Haddad, que o Partido dos Trabalhadores (PT, Esquerda) escolheu para substituir o ex-presidente Lula, preso por corrupção, o capitão na reserva regozija-se. “Os cães ladram e a caravana passa”, escreveu.
A última medição é da Datafolha (9137 inquiridos e margem de erro de dois pontos) e amplia a vantagem de Bolsonaro em dois pontos face à sua sondagem anterior. Mas já o Ibope avançava estes números no início da semana.
A GUERRA NAS REDES
Do lado oposto, é assumida a corrida contra o tempo. Haddad, ensombrado pelo ódio ao PT, já procurou descolar da imagem do partido, lamentando “erros” (crimes e corrupções) passados e retirando Lula e o vermelho da campanha. Mas as hipóteses parecem cada vez mais ténues.
A última cartada é a da aposta na denúncia de ilegalidade de apoios de empresas à Bolsonaro mediante a divulgação maciça de mensagens falsas sobre si e o PT nas redes sociais, anteontem avançada pela “Folha de S. Paulo”. A preços que podem ir até 2,8 milhões de euros o pacote de mensagens e que configuram financiamento ilegal.
O WhatsApp reagiu à notícia banindo as contas das agências contratadas pelas ditas empresas para disparar “fake news”. E Bolsonaro continua a dizer – nas redes sociais – que não controla os apoiantes e a garantir o seu “compromisso com a liberdade de imprensa e a Internet”.
Mas também diz, da denúncia: “A ‘Folha de S. Paulo’, sempre a ‘Folha de S. Paulo’. Um jornal que, realmente, se afunda cada vez mais na lama”. Quanto ao PT, diz, não é “prejudicado por fake news, mas pela verdade”.
Um dos dramas desta eleição é o facto de o debate se ter transferido para as redes sociais, face à recusa de Bolsonaro em participar num frente a frente confrontador, invocando razões médicas (tem uma bolsa de colostomia na sequência do esfaqueamento de que foi alvo na campanha), mas admitindo, também, ser estratégia.
Ora, outra pesquisa da Datafolha revelava ontem que 67% dos inquiridos consideram os debates “muito importantes”.
Outro dado importante diz respeito à “chance de haver nova ditadura no Brasil”: 31% dizem que é muita, 19% dizem que existe. Total: 50%. Em 2014, pergunta idêntica era respondida, respetivamente, por 15% e 24% dos inquiridos.