Falta de sentido de Estado
Há um mês, a propósito da nomeação da PGR, batizei o meu artigo como “Sentido de Estado”, descrevendo a postura de Rui Rio e do PSD nessa matéria. Hoje, o título visa descrever a postura do primeiro-ministro na gestão do “dossiê Tancos”.
Convém recordar: o furto de material de guerra dos paóis de Tancos foi em 28 de junho 2017. Decorreu mais de um ano sem que nada de substantivo sucedesse nem nada de concreto se conhecesse. O assunto saiu da agenda mediática.
Em 9 de setembro de 2018, Rui Rio intervém na Universidade de Verão do PSD/JSD, recuperando este assunto para a ordem do dia. Disse então que “o país tem de exigir respostas”, afirmou que “politicamente está provado que o Governo foi incapaz e não tem respostas para dar” e apelou para a necessidade de que “o país saiba da irresponsabilidade política, para responsabilizar quem verdadeiramente está por trás de tudo isso”.
Na altura, Rui Rio foi criticado (sobretudo internamente), por estar agarrado a temas sem atualidade. Desde então até hoje, ainda não decorreram dois meses, e já tudo ruiu como um castelo de cartas, tendo-se verificado, na última semana, as demissões do ministro da Defesa e do Chefe do Estado-Maior do Exército. Apesar do tema já não ter atualidade Rui Rio tinha razão. E atuou, exigindo respostas, em devido tempo.
O país esteve mais de um ano a olhar passivamente para o desaparecimento de material militar como se se tratasse de um roubo num galinheiro. O primeiro-ministro considerou-o um mero “caso de polícia” exibindo a sua habitual desresponsabilização e demonstrando ignorar a importância nacional e internacional de um assunto de Estado. E nos últimos dias ainda assistimos à desfaçatez do PS em sugerir a demissão do Chefe do Estado-Maior do Exército, apesar de sempre o ter recusado fazer com o seu ministro. Parece que, afinal, chuva civil sempre molha militar
Mas há ainda muito por esclarecer e as recentes demissões, ao invés de afastarem, ainda adensaram a urgência em perceber o que está por detrás de toda esta inédita situação. E deu ainda mais razão a Rui Rio e à forma inteligente e eficaz como soube trazer este assunto para a ordem do dia.
O povo está atento à forma de atuar de Rui Rio como líder da Oposição. Que não se limita a seguir a agenda mediática. A forma como se faz oposição é a maior demonstração de preparação para o exercício do poder.