Acreditar mais na vida pela magia da rádio
Emissora interna em instituto de Lisboa ajuda jovens com défice cognitivo a melhorar competências
da Rádio Acreditar, em Lisboa, Inês Lopes conduz, de forma segura e muito animada, a emissão do dia, em que é entrevistada uma conhecida atriz portuguesa. Ao lado, os colegas Ana Teresa Dias e Tomás Oliveira não deixam que o ritmo do programa esmoreça. Os três fazem questão de mostrar que fizeram bem o “trabalho de casa” e interrogam a entrevistada sobre aspetos concretos da sua carreira. Mas, afinal, o que distingue estes “locutores” de outros? Todos têm défice cognitivo. Um handicap que não lhes trava o entusiasmo. E ali, no Centro de Atividades Ocupacionais da Ajuda da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão com Deficiência Mental (APPACDM), em Lisboa, as emissões diárias são sempre momentos de grande emoção.
Ao JN Urbano, Filomena Abraços, diretora técnica da APPACDM Lisboa, conta que a rádio interna, criada há pouco mais de 10 anos, “é um sucesso”. “Foi um sonho que conseguimos concretizar através do donativo e que tem ajudado muitos dos nossos utentes a desenvolver competências”, explica.
“Já temos locutores, técnicos de som e repórteres para entrevistas na rua”, adianta a responsável, sublinhando a grande adesão dos 82 utentes do centro às emissões da Rádio Acreditar.
DO DESPORTO ÀS NOVELAS
A magia de poderem falar a um microfone ou de ouvirem os colegas faz com que todos se sintam entusiasmados com o projeto. E a “grelha” é variada. Há programas de desporto – “vêm de casa com os resultados do futebol todos decorados”, revela Teresa Abraços – de saúde, música, crítica de telenovelas e discos pedidos, entre muitos outros.
“Nota-se a diferença neles desde que isto começou. Fazer rádio eleva-lhes muito a autoestima e ajuda-os nos relacionamentos que têm lá fora com a sociedade. Para eles, a rádio é um orgulho. Têm aquela sensação de poder dizer ‘eu sou capaz’”. acrescenta a diretora técnica.
SUPERAR DIFICULDADES
Em jeito de balanço, Teresa Abraços diz que os resultados vão “além do esperado”. A emissão é levada muito a sério e a única diferença é que na Rádio Acreditar não há horas nem programação fixas. “Todos os dias está uma pessoa com eles. Desde as terapeutas aos monitores, toda a gente ajuda, porque é gratificante observar os progressos”, destaca.
O nome da emissora não podia ser mais adequado. “Acreditar, porque eles acreditam que é possível superar as dificuldades intelectuais com que nasceram”, conclui Filomena Abraços.