Professora “Perdemos a batalha da contagem do tempo de serviço”
Cristina Fontes Há 25 anos na profissão, gostaria de ver a carreira valorizada de outra forma pelos governos
“Ao longo destes 25 anos de serviço, tenho feito parte de múltiplas experiências de ensino-aprendizagem, algumas delas completamente antagónicas. Os professores e as escolas não podem fazer planos a médio prazo, pois, por vezes, terminamos um ano letivo com determinadas orientações e começamos o seguinte com outras”, diz Cristina Fontes, docente de Português no Agrupamento Alberto Sampaio, em Braga.
A professora está cansada de tantas mudanças legislativas e a necessidade de se manter atualizada levou-a a frequentar uma ação de formação de 25 horas sobre flexibilidade curricular. “Três sábados, de manhã e de tarde, paga por mim. Estou a retirar tempo ao descanso e à família. Não o deveria fazer, mas não gosto de me sentir perdida com tanta novidade”, frisou. E continuou: “Espera-se que a escola trabalhe para um determinado perfil do aluno, mas gostaria muito que, este ano, o Governo também se dedicasse a trabalhar para um perfil do professor – motivado, valorizado, respeitado”. Sobre o tempo de serviço, Cristina Fontes diz que “os sindicatos perderam a batalha” e que os partidos políticos “também já não agitam essa bandeira”.
No Orçamento do Estado gostaria de ver refletidas “outras lutas”, como a renegociação do artigo 79.o do Estatuto da Carreira Docente, que concede redução da componente letiva para os professores a partir de certa idade. “Gostaria de ver efetivamente valorizada a formação adicional que os professores fazem (pós-graduações, mestrados e doutoramentos), de assistir a uma verdadeira redução de alunos por turma, gostaria que houvesse compensações reais e obrigatórias para os professores com mais turmas e/ou mais níveis de ensino e, por último, gostaria que a questão dos concursos fosse amplamente debatida”, finalizou.
“Os partidos e a sociedade civil devem pensar seriamente no que querem para a Educação”, frisa a docente, que discorda da gratuitidade universal dos manuais escolares no ensino público. “Estabeleceria outras prioridades, pois nem todos precisam desta ajuda. E a medida só faria sentido se abrangesse também o privado”, conclui Cristina Fontes.