Empresário “Não podemos pagar bons salários porque estamos estrangulados”
José Vieira Administrador da Viarco, única fábrica de lápis sediada em Portugal, pede uma revolução nos impostos
Dentro da Viarco, onde se fazem lápis em máquinas que contam mais de 100 anos, há 29 pessoas a trabalhar, com capacidade para fazer 150 lápis por dia. Só que não os produzem todos os dias, porque apostaram num “cavalo de Troia” para sobreviver: uma linha de produtos de desenho. José Vieira, administrador da empresa centenária que em 2011 esteve perto de fechar, olha para o Orçamento do Estado (OE) com distanciamento. Ainda assim, aplaude os benefícios fiscais para pequenas e médias empresas do interior do país.
Situada em São João da Madeira, continua a ser a única fábrica de lápis em Portugal, mas foi lá fora que encontrou a tábua de salvação. Hoje, a Viarco exporta na ordem dos 50%. “Cá há muito mercado, mas está tomado por marcas estrangeiras ou grandes superfícies, por isso há um afastamento ao mercado escolar”, explica quem apostou numa linha para artistas. Não é por acaso que acolhe residências artísticas. “As máquinas velhas são espetaculares, permitem testar sem envolver investimentos catastróficos”. No ano passado, a empresa faturou 780 mil euros.
Ao olhar para o OE, José Vieira diz que o fim do PEC não o afeta. Permitia-lhe ir amortizando o valor do IRC que ia acabar por pagar no final do ano. “Mais vale pagar às prestações do que pagar por inteiro”, defende quem aplaude os benefícios fiscais para empresas no interior. “Tudo o que leve dinâmica lá para dentro é bom. É uma forma de levar e manter a gente mais nova”. Não concorda com a subida dos impostos sobre os gastos com viaturas ligeiras, embora defenda o combate à fraude fiscal e, afirma, à pouca vergonha: “É o justo a pagar pelo pecador”.
“Este Orçamento não é um novo software, o sistema não muda nem pode mudar tudo”, explica José Vieira, que diz que a maior dificuldade das pequenas empresas é encontrar uma identidade para garantir a sobrevivência. O administrador da Viarco gostava que se reconhecesse valor à produção e pede uma revolução nos impostos para os trabalhadores. “Não podemos pagar bons salários porque somos estrangulados até ao tutano. E o Estado ainda come 30% do salário de alguém que já ganha pouco”.