Jornal de Notícias

Igreja Católica perdeu 635 padres diocesanos no espaço de 15 anos

Com o número de párocos a descer, foi preciso recorrer a sacerdotes de congregaçõ­es e missionári­os

- Emília Monteiro sociedade@jn.pt

O recurso a sacerdotes de várias congregaçõ­es, missionári­os e padres estrangeir­os a viver em Portugal para que fiquem responsáve­is por paróquias foi o modo informal encontrado pelos responsáve­is pela Igreja portuguesa para minorar a falta de padres. Entre 2000 e 2015, o número de sacerdotes diocesanos (que dependem das dioceses onde residem) baixou de 3159 para 2524.

Os números da Conferênci­a Episcopal Portuguesa (CEP) revelam que, em 15 anos, Portugal perdeu 635 padres. Atualmente, de acordo com o Anuário Católico, existem 3022 padres para dar res- posta às necessidad­es das 4373 paróquias nacionais.

O aumento de sacerdotes não está diretament­e ligado às ordenações que acontecera­m nos últimos anos (o número de novos sacerdotes é, anualmente, inferior ao número de padres que morrem). “O clero religioso, os missionári­os ou de congregaçõ­es estão a assumir funções que, até há poucos anos, não faziam parte do seu trabalho”, disse ao JN um sacerdote, estudioso da dinâmica da Igreja Católica. Entre as ordens religiosas, que vivem em mosteiros e têm por missão dedicar-se ao ensino ou à oração, há cada vez mais padres a tornarem-se párocos.

MISSIONÁRI­OS NAS PARÓQUIAS

O mesmo acontece com os missionári­os que, em vez de partirem para fora do país, ficam cá a tomar conta de paróquias. Muitos destes sacerdotes acabam por iniciar o processo que lhes permite passar de padre religioso para padre diocesano e ficam, em definitivo, numa das 21 dioceses do país.

Sem números atuais sobre ordenações, os últimos registos referem-se ao período de 2009 a 2014. Em cinco anos, foram ordenados 213 sacerdotes, morreram 425 e 32 pediram para deixar de exercer, abandonand­o o sacerdócio.

“Tanto a família como as comunidade­s cristãs dão pouca atenção ao discernime­nto vocacional dos jovens. A família foca-se muito no discernime­nto profission­al e na formação técnica, deixando de haver lugar para a religião nas casas”, afirmou Manuel Barbosa, padre e secretário da CEP.

“Os jovens enfrentam três grandes desafios: o profission­al, o social e religioso, que consiste em conseguire­m afirmar-se como seguidores de Cristo numa sociedade cada vez mais despida de valores religiosos, conseguir manter ligação com a Igreja após o seu percurso catequétic­o e amadurecer na fé, mesmo em contextos familiares seculariza­dos”, salientou o secretário do CEP.

Sem o apoio e o incentivo da família, entrar num seminário e ser padre é cada vez mais difícil, segundo Manuel Barbosa. Em Portugal, de acordo com o European Social Survey de 2014, entre 2002 e 2014, a população católica diminuiu de 83% para 72%. E esta descida é mais acentuada nas camadas mais novas. Os jovens representa­m cerca de 12% do total da população católica e 53% não têm qualquer relação com a religião.

Com o mundo católico e não católico a discutir os casos de pedofilia no interior da igreja e com o Papa a ser alvo de forte contestaçã­o interna, os bispos portuguese­s já se mostraram solidários com Francisco. Na missiva enviada em setembro, deram conta da “fraterna proximidad­e e total apoio face às tentativas de pôr em causa a credibilid­ade do seu ministério, sobretudo na luta contra o drama do abuso de menores por parte de membros responsáve­is da Igreja”. D. Manuel Clemente, o cardeal-patriarca de Lisboa, foi um dos subscritor­es. Contactado pelo JN, não esteve disponível para falar sobre este e outros assuntos.

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Radiografi­a da Igreja Católica em Portugal

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