Mantém viva tradição dos livros há 70 anos
Nuno Canavez é um dos mais antigos alfarrabistas do Porto e vai ser distinguido pelo presidente da República
Desde o primeiro dia que entrou na Livraria Académica já passaram 70 anos. Nuno Canavez deixou Mirandela para procurar emprego no Porto e estudar à noite. E assim foi. Aos 13 anos, começou a sua vida nesta casa de tradição secular, entre paredes recheadas de livros antigos e raros. Um dos clientes é Marcelo Rebelo de Sousa, que, enquanto presidente da República, vai agora atribuir-lhe o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
Pela livraria que abriu em 1912, quatro anos na Rua das Oliveiras e desde então na Rua dos Mártires da Liberdade, passaram muitos escritores, como Miguel Torga, Jaime Cortesão e José Régio, mas também destacados políticos, como o atual presidente da República e também o ex-chefe de Estado e primeiro-ministro Mário Soares, outro cliente que o agraciou com a Ordem do Mérito.
“Entrei aqui com 13 anos. Cheguei nos primei-
ros dias de outubro de 1948”, recordou Nuno Canavez ao JN. “Vim para o Porto com o objetivo de arranjar emprego e estudar à noite e assim aconteceu. Respondi a um anúncio e fiquei logo no dia 11”, lembrou ainda. Depois, matriculou-se no Curso Geral de Comércio, à noite.
NUNCA TEVE DE FECHAR
Chegou a estabelecer-se por conta própria, com a livraria Lusa, em Cedofeita, mas regressou à Académica após quatro anos.
Hoje com 83 anos de idade, tem o filho a trabalhar com ele e é um dos mais antigos alfarrabistas da cidade que faz da sua livraria “um ponto de encontro cultural da maior relevância”, como referiu o próprio chefe de Estado na mensagem que lhe escreveu para ser lida na homenagem de que foi alvo no dia em que comemorou 70 anos de atividade. O presidente prometeu entregar pessoalmente as insígnias, o que poderá acontecer já em novembro, no Porto.
Marcelo “vem de vez em quando à livraria, gosta muito de Literatura e, principalmente, de História”, explica Nuno Canavez. Garante que “nunca” esteve em risco de fechar portas. Desde o início da década de 70 que é o único proprietário desta casa, cujos livros são quase todos usados. Qual o segredo para resistir? “É uma livraria bastante especializada, sobretudo com livros antigos, raros” e “obras consagradas”, explica, dando conta de um volume de negócios “interessante” que tem “permitido ultrapassar qualquer dificuldade”, embora nos últimos tempo “isto ande muito parado”.