Tornar-se português é plano B para muitos
Pedidos de nacionalidade aumentaram de tal forma este ano que autoridades consulares em S. Paulo tiveram de suspender o serviço
Procurar um passaporte português passou a ser um plano alternativo, nas últimas semanas, para brasileiros que, receando o aumento da violência após as eleições presidenciais de 28 de outubro, equacionam deixar o país.
Carolina Barres, 33 anos e portadora de nacionalidade brasileira e portuguesa, contou à Lusa que a sua companheira vai dar entrada com o pedido de nacionalidade portuguesa por motivo de segurança, caso precisem de sair do país para escapar à violência contra casais homossexuais.
“Eu tenho a cidadania e o passaporte português. De facto, se pre- cisarmos de sair do Brasil, a Fernanda poderá, a partir do reconhecimento da nossa união de facto, pedir os documentos para viver e trabalhar em Portugal legalmente. Tenho medo de viver no Brasil porque sou mulher, gay, trabalho com arte, cinema e teatro e posso sofrer represálias num eventual governo liderado por Jair Bolsonaro”, candidato de extrema-direita.
A companheira, Fernanda Bernardino, 35 anos, admite que pedir a nacionalidade portuguesa “não era uma coisa urgente”. Hoje, sente que é “uma necessidade”. O casal, que no início do ano comprou um apartamento, já mudou a rotina “por causa do medo”.
Também a portuguesa Katia Soveral, de 40 anos, diz que a situação política do país fez com que decidisse formalizar em cartório o
Suspensão de pedidos
O número de pedidos de nacionalidade e solicitações de vistos para Portugal no Cônsul Geral de São Paulo disparou em 2018, o que levou as autoridades consulares a suspender a receção de pedidos até ao início de 2019. Entre janeiro e setembro deste ano,
Aumento de 34%
De acordo com a Secretaria de Estado das Comunidade Portuguesas, em nove meses os pedidos de nacionalidade portuguesa feitos em São Paulo aproximaram-se dos seis mil, dos quais 61% correspondem a vistos de estudo. relacionamento com o namorado, brasileiro e negro. Têm medo por serem de minorias. “O que eu vejo e estou sentido sobre a evolução política no país é que vem vindo uma repressão e tempos muitos sombrios. Toda esta onda racista, xenófoba, misógina, homofóbica vem surgindo através da voz de um candidato à presidência que incita muito à violência”.
E, a acontecer, a saída do Brasil será um difícil plano B. Katia tem um emprego na área de audiovisual numa grande produtora e o namorado, Cristiano, deu recentemente uma guinada na carreira, deixando a música para trabalhar no mercado de venda de imóveis. “Mas, se for necessário ir para ter liberdade, é o que iremos fazer”.