Jornal de Notícias

Trump rasga acordo com a Rússia

“Falta de sabedoria”, reage o último dirigente soviético, Mikhail Gorbachov, que assinou o tratado com Rondal Reagan em 1987

- Ivete Carneiro ivete@jn.pt

Mais um. O presidente norte-americano, Donald Trump, rasgou o Tratado sobre Forças Nucleares de Alcance Intermédio (FNI) que um seu antecessor assinara com a então União Soviética no ocaso da Guerra Fria e que permitira ao Mundo respirar. Porque, assegura, Moscovo anda a violá-lo desde 2014. E Moscovo, do seu lado, assegura que se trata de um “passo muito perigoso” e de mais um “golpe contra o sistema de estabilida­de mundial”. Já Gorbachov lamenta a “falta de sabedoria” do presidente dos EUA: “Washington não entende ao que isso pode levar?”

Em causa está o sistema de mísseis 9M729 desenvolvi­do pela Rússia que, mais uma garantia de Washington, ultrapassa os 500 km de alcance que era o limite imposto no FNI (ler caixa). “A Rússia não res- peitou o tratado. Portanto, vamos pôr fim ao acordo e desenvolve­r essas armas”, anunciou Trump, numa ação de campanha para eleições intercalar­es de novembro em Elko, no Nevada. “Não vamos deixá-los violar o acordo nuclear e fabricar armas, enquanto nós não somos autorizado­s”.

A preocupaçã­o norte-americana, segundo fontes citadas pelo jornal “The New York Times”, é, na verdade, a China. À luz do FNI, os EUA estão impedidos de desenvolve­r mísseis de longo alcance para responder à expansão de Pequim (que não está obrigada a essa contenção) no Mar do Sul da China, onde tem vindo a instalar sistemas militares em ilhas isoladas.

A ideia de rasgar o texto de Reagan e Gorbachov seria, segundo o britânico “The Guardian”, da autoria do conselheir­o de segurança de Trump, o muito radical John Bolton, que também tem bloqueado a renegociaç­ão do New Start, que contém a expansão de mísseis estratégic­os mas, ao contrário do FNI, tem prazo de validade 2021.

“Não sei porque é que o presidente Obama não renegociou ou não se retirou” do tratado, lançou Trump, referindo-se ao antecessor democrata. Porque seria “muito perigoso”, respondeu ontem o vice-ministro dos Negócios Estrangeir­os da Rússia, Sergei Riabkov, negando estar a violar o que quer que seja. Além de que “não seria compreendi­do pela comunidade internacio­nal e geraria mesmo sérias condenaçõe­s”. Gorbachov, nesse sentido, apelou à intervençã­o dos defensores de um mundo sem armas nucleares para “preservar a vida” no Planeta.

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Trump em Elko, onde animou a campanha para as intercalar­es de novembro com armas nucleares

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