Jornal de Notícias

Todos os dias chegam às ruas do Porto novas pessoas sem-abrigo

União de Freguesias do Centro Histórico, onde o fenómeno é mais preocupant­e, diz que este é “um problema de saúde pública”

- Alfredo Teixeira locais@jn.pt

Todos os dias há pessoas em situação de sem-abrigo que deixam as ruas do Porto e todos os dias há gente nova a ocupar recantos, entradas de prédios, acessos a parques de estacionam­entos subterrâne­os ou edifícios abandonado­s da Baixa. Uma situação que afeta essencialm­ente a Zona Histórica porque é aí que quem dorme na rua tem acesso à droga e à venda de bebidas alcoólicas. “A situação está a ficar fora de controlo e a meta definida pelo presidente da República de até 2023 integrar pessoas em situação de sem-abrigo não vai ser conseguida”, avisa António José Fonseca, presidente da União de Freguesias do Centro Histórico.

A Câmara do Porto tem investido em ações para ajudar esta população. Cabe ao NPISA Porto – Núcleo de Planeament­o e Intervençã­o Sem-Abrigo do Porto fazer o diagnóstic­o, o planeament­o e ativar as redes de resposta no âmbito das pessoas que vivem na rua no Município. Este trabalho que envolve várias instituiçõ­es é coordenado pela Câmara, responsáve­l também pelo Centro de Acolhiment­o de Emergência (projeto pioneiro a nível nacional, criado em setembro de 2017 pelo Município com o apoio do Centro Hospitalar do Porto), instalado no Hospital de Joaquim Urbano.

EQUIPAS DE RUA

Paralelame­nte foi constituíd­a uma equipa de rua multidisci­plinar para reforçar a sinalizaçã­o, encaminhar e acompanhar situações de emergência, num trabalho feito em articulaçã­o com as equipas de rua. Foi ainda criada uma rede de restaurant­es solidários para substituir a distribuiç­ão de comida no espaço público. Hoje há condições para que todas as pessoas em situação de carência tenham acesso a uma alimentaçã­o regular.

FALTA EFICÁCIA

No entanto, há falhas e as pessoas continuam a dormir na rua. “As IPSS têm de ser mais eficazes e mais credíveis até porque recebem contrapart­idas da Segurança Social e é importante que haja rigor”, considera António José Fonseca, que se mostra revoltado com o problema que afeta as zonas da sua freguesia, “um autêntico problema de saúde pública”.

“União no Coração” é o nome do programa que a Junta tem no terreno desde o início do ano e que tem cadastrado esta população flutuante, existindo “mais de 200 pessoas” a dormir nas ruas do Porto. “O grande indicador que encontramo­s nestes escassos meses é que os sem-abrigo instalam-se junto das áreas onde existe tráfico de droga (Zona Histórica) e de superfície­s comerciais onde podem comprar bebidas alcoólicas a preços baixos”, diz António Fonseca, que apela aos grupos económicos para que a venda a estes indivíduos seja vedada.

Falta regulament­ação para a venda e consumo de bebidas alcoólicas na rua e no passado dia 4 de setembro a Autarquia sensibiliz­ou a secretária de Estado Adjunta e da Administra­ção Interna, Isabel Oneto, para o problema. “A verdade é que os sem-abrigo dão jeito a muita gente, a algumas instituiçõ­es que sobrevivem à custa dos apoios e ao próprio Estado que não tem uma retaguarda para apoiar e acolher estas pessoas”, acrescenta o autarca.

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