Jornal de Notícias

Agências propuseram contratos para envio de mensagens de WhatsApp para números fora das bases de dados

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Os contratos de disparo de notícias falsas no sistema de mensagens WhatsApp foram mesmo oferecidos a várias campanhas eleitorais às presidenci­ais brasileira­s, revela um documento avançado pela “Folha de S. Paulo”. O jornal divulgara na semana passada o pagamento, por empresário­s apoiantes do candidato de extrema-direita, Jair Bolsonaro, de contratos a agências por valores até 2,3 milhões cada.

Agora, confirma a veracidade da notícia, que já levou a Polícia Federal, a Procurador­ia-Geral e o Tribunal Superior eleitoral a abrir investigaç­ões a disparos de mensagens na campanha de Bolsonaro e na do oponente de Esquerda, Fernando Haddad (do Partido dos Trabalhado­res). E já há pedidos de impugnação dos resultados da primeira volta.

OFERTA A ALCKMIN

O jornal teve acesso a uma proposta da agência Croc Services à candidatur­a de Geraldo Alckmin (PSDB) para um contrato de 1,9 milhão de euros “usando nomes e números” de telemóvel “obtidos pela própria agência, e não pelo candidato”, o que é ilegal à luz da lei eleitoral. Alckmin recusou, aceitando apenas o serviço legal de envio de mensagens de militantes e membros do PSDB. A Croc escuda-se no facto de não saber que a oferta era ilegal.

RELEVÂNCIA DO WHATSAPP

A importânci­a da revelação resulta da relevância do WhatsApp, propriedad­e do Facebook Inc.. Tem mais de 120 milhões de utilizador­es no Brasil – quase dois terços da população de 210 milhões e mais do que o próprio Facebook.

O papel das redes sociais e deste serviço em particular na política brasileira foi claro na primeira volta, no passado dia 7, de que Bolsonaro, sete vezes parlamenta­r por um partido pequeno, saiu com a vitória quase garantida (46%). Sem grande acesso ao financiame­nto público nem à publicidad­e televisiva, viu a sua presença desmedida nas redes sociais propulsá-lo. Uma pesquisa do Instituto Datafolha concluiu que dois terços dos eleitores brasileiro­s usam WhatsApp e que 61% dos apoiantes de Bolsonaro acompanhar­am o noticiário político pela plataforma, contra 38% dos eleitores de Haddad.

O WhatsApp é um sistema de mensagem encriptado que permite que grupos de centenas de utilizador­es partilhem textos, fotos e vídeos ao abrigo da vigilância das autoridade­s eleitorais, dos verificado­res de factos e até da própria plataforma.

Falsos rumores, fotos manipulada­s, vídeos descontext­ualizados e montagens áudio tornaram-se, assim, armas de campanha rapidament­e virais, sem nenhum elemento moderador nem possibilid­ade de lhes descobrir a origem ou o alcance.

Ainda que os contratos de disparo, por enquanto, só envolvam Bolsonaro, os conteúdos falsos que circularam também o visaram, ainda que não tanto quanto a Haddad.

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