A Oriente, o Papa usa lentes progressivas
O Papa Francisco está atento aos que sofrem à sua porta e preocupa-se com os problemas dos que vivem em paragens longínquas. Cuida dos sem-abrigo que dormem na Praça de S. Pedro, ao mesmo tempo que desenvolve uma intensa atividade diplomática no Extremo Oriente para que a Igreja possa chegar aos pobres de lá. É a sua preocupação com as “periferias existenciais e geográficas”, as tristes realidades que estão à nossa porta mas longe da Igreja, ou em paragens longínquas.
Apesar de ter estado muito ocupado a acompanhar o Sínodo dos Bispos dedicado à juventude, o Papa recebeu esta quinta-feira o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, e o vice-primeiro-ministro do Vietname, Truong Hoa Binh.
O presidente sul-coreano transmitiu ao Papa o convite do presidente norte-coreano, Kim Jong-un, para visitar o seu país. Francisco terá respondido que irá à Coreia do Norte se receber um convite oficial.
Ao longo do seu Pontificado, o Papa Francisco tem conseguido aproximar-se da Igreja Ortodoxa Russa, que lhe abriu a possibilidade de visitar um dia aquele país. No mês passado foi assinado um acordo histórico com o Governo da República Popular da China, o qual permitirá ultrapassar o diferendo que a Santa Sé mantinha com aquele país. Se, de facto, vier a acontecer a visita à Coreia do Norte, significará uma extraordinária abertura de um dos regimes mais fechados à liberdade religiosa.
Se João Paulo II deu o seu contributo para derrubar a Cortina de Ferro, Francisco está a abanar a chamada “Cortina de Bambu”, que divide as duas Coreias.
Devido a este inesperado convite, a visita do presidente sul-coreano mereceu o maior destaque mediático. Já a do vice primeiro-ministro vietnamita, que também abriu a possibilidade de o Papa visitar aquele país, passou mais despercebida. Mas não deixou de ser um acontecimento extraordinário
A forma como Francisco soube construir, com a diplomacia do Vaticano, esta abertura do Oriente, não é apenas boa para a liberdade religiosa: beneficia também, e muito, o respeito pelos direitos humanos
para a diplomacia da Santa Sé. Com a revolução marxista-leninista, em 1975 o Estado declarou-se ateu. Contudo, permite o culto religioso, desde que aprovado e controlado pelo Governo comunista. Menos de 10% da população é cristã. Seis milhões são católicos e menos de um milhão são protestantes. Apesar de ser permitido o culto, não podem ser usados em público os símbolos religiosos. Os sacerdotes e os religiosos não podem usar na rua as vestes próprias da sua condição, ou os hábitos das suas congregações.
A possibilidade do Estado vietnamita formalizar um convite para o Papa visitar o país, revela abertura para estabelecer relações diplomáticas com a Santa Sé. E constitui um primeiro passo para dar aos católicos a possibilidade de celebrar publicamente a sua fé com o Papa.
Abrem-se assim, no Extremo Oriente, portas que durante décadas estiveram fechadas para a Igreja Católica. A forma como Francisco soube construir, com a diplomacia do Vaticano, esta abertura do Oriente, não é apenas boa para a liberdade religiosa: beneficia também, e muito, o respeito pelos direitos humanos.
Este Papa usa lentes progressivas. Quando olha para Oriente – e não só.