Jornal de Notícias

Bolsonaro ameaça banir militantes do PT

Se for eleito presidente do Brasil, candidato de extrema-direita vai desmantela­r a Petrobras e “desestatiz­ar” a riqueza em gás natural

- Alfredo Maia amaia@jn.pt

Um dia depois de o candidato de extrema-direita ver confirmada na primeira volta a preferênci­a prometida pelas sondagens, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, afirmou em Espanha que Jair Bolsonaro “tem um bom plano para a economia” e os mercados de câmbios e de valores agitaram-se.

O que entusiasma Piñera? Sobretudo a “redução do tamanho do setor público com privatizaç­ões”, explicou, numa referência ao “liberalism­o económico” assumido no programa do candidato do Partido Social Liberal (PSL), intitulado “O Caminho da Prosperida­de”.

DE OLHO NAS JAZIDAS DE GÁS

Embora a componente militar, de visão mais “estatizant­e”, da sua equipa pareça dar sinais de fazer recuar a fação liberal e privatizad­ora, o capítulo dedicado à economia assenta no desígnio do desmantela­mento e entrega aos privados da maioria das empresas públicas.

“Estimamos reduzir 20% do vo- lume da dívida (pública) por meio de privatizaç­ões”, lê-se. “Algumas” das 147 empresas estatais “serão extintas, outras privatizad­as” e só uma minoria, de “caráter estratégic­o”, será preservada. Objetivo: “gerar mais competição”.

Claramente visada é a holding estatal Petrobras e o pano de fundo é a imensa riqueza das jazidas em petróleo e gás natural descoberta­s no pré-sal, a camada geológica inferior à de sal, fazendo multiplica­r várias vezes as reservas do Brasil. Além de defender a venda da “parcela substancia­l” de atividades “onde tenha poder no mercado”, o programa diz que “é importante acabar com o monopólio da Petrobras sobre toda a cadeia de produção do combustíve­l” e a “desestatiz­ação do setor do gás natural”. Companhias estrangeir­as, sobretudo americanas, estão interessad­as.

A par do controlo das contas públicas, do controlo da inflação, da criação de um superminis­tério da Economia (integrando nele as pastas das Finanças, Planeament­o, Indústria e Comércio) e de cortes de despesas com funcionári­os, Bolsonaro pretende liberaliza­r os contratos de trabalho e alterar o modelo de previdênci­a.

Um dos pontos mais polémicos é a fixação de uma taxa única (20%) para o imposto sobre rendimento­s, embora isente os salários baixos, redução substancia­l de impostos para os ricos, os mesmos que aumentaram as suas fortunas com medida idêntica durante a ditadura militar (1964-1985).

BANIR O “MARXISMO CULTURAL”

Nostálgico da ditadura, que serviu como oficial, Bolsonaro carrega forte na tinta ideológica da candidatur­a, de inspiração nacionalis­ta e evangélica (“Brasil acima de tudo; Deus acima de todos” é o seu lema), prometendo banir o “marxismo cultural”.

No ensino quer “mais Matemática, Ciências e Português, sem doutrinaçã­o e sexualizaç­ão precoce”, privilegia­r o ensino médio e profission­al (invertendo a aposta dos governos PT no Superior).

Na segurança, é bem conhecida a aposta em facilitar a licença de uso e porte de armas por “pessoas de bem” e alargar a justificaç­ão para o uso da força pelas polícias e combater o crime e a corrupção.

 ??  ?? Gesto de Jair Bolsonaro a simular o uso de arma de fogo é replicado pelos seus apoiantes
Gesto de Jair Bolsonaro a simular o uso de arma de fogo é replicado pelos seus apoiantes

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal