Jornal de Notícias

Mentiródio

- POR Mariana Mortágua Deputada do BE

Clinton, candidata à presidênci­a dos EUA, envolvida em rituais demoníacos e redes de pedofilia. Dilma Rousseff, antiga presidente do Brasil, associada a atos terrorista­s. Haddad, atual candidato à presidênci­a do Brasil, a distribuir “kits gay” a crianças de seis anos. Todas estas e muito mais histórias circularam milhões de vezes nas redes sociais americanas e brasileira­s, ajudando a promover Trump e Bolsonaro. Todas estas históricas têm uma coisa em comum: são mentira.

Para cumprir o seu objetivo, a calúnia e a difamação não precisam sequer de parecer verdade. Elas servem para contaminar, para serem partilhada­s, imunes a qualquer desmentido. Servem para apagar a fronteira entre a verdade e a mentira, entre a informação e a opinião, entre o facto e o falso. Servem para chocar e para fanatizar, para incitar ao ódio que alimenta a extrema-direita e que justifica todos os estados deexceção.

Estas mentiras não são criadas por engraçadin­hos com poucos escrúpulos. São campanhas organizada­s e bem financiada­s. Sabe-se hoje que 40% dos eleitores tiveram acesso a um dos tweets da campanha de desinforma­ção lançada a partir dos gabinetes russos para desestabil­izar as eleições americanas. A Cambridge Analytical, uma consultora política, roubou dados de 50 milhões de utilizador­es do Facebook e minou os seus perfis com notícias falsas que promoviam a xenofobia do Brexit ou que denegriam os oponentes de Trump. No Brasil, os grupos de WhatsApp que espalham as mentiras de apoio a Bolsonaro estão a ser financiado­s por grupos de empresário­s anti-PT.

Na semana passada começou a circular nas redes sociais em PorHillary tugal uma imagem falsa de Catarina Martins com um relógio de luxo, dizendo que tinha custado 21 milhões e que era a maior fraude da política portuguesa. É mentira, e é óbvio que é mentira. Mas isso não impediu a sua circulação. Uma investigaç­ão do DN veio a revelar que as páginas da Internet responsáve­is por esta e outras mentiras pertencem a uma empresa de Santo Tirso. O seu dono chama-se João Pedro Rosas Fernandes, e é apoiante de Trump e Bolsonaro.

Rejeito a mentira contra Catarina Martins como rejeitarei contra Assunção Cristas. A calúnia é a arma da extrema-direita populista porque só o medo e o ódio lhe permitem justificar o seu programa de violência e fobia à diferença. Na Direita há quem não faça caso ou até desculpe estes métodos, até dá jeito, já que é a Esquerda que está sob ataque. É um erro. Hoje somos nós, amanhã será quem lhes fizer frente. O ataque é à democracia e ao Estado de direito.

A calúnia é a arma da extrema-direita populista porque só o medo e o ódio lhe permitem justificar o seu programa de violência e fobia à diferença

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