Jornal de Notícias

Centeno avisa Bruxelas que não muda nem uma vírgula no Orçamento

Governo português insiste que ajustament­o estrutural vai ser 0,3% do PIB em 2019 “de acordo com a nossa melhor avaliação”

- Luís Reis Ribeiro luís.ribeiro@dinheirovi­vo.pt

O plano orçamental de Portugal para 2019 vai manter-se exatamente igual, apesar das várias dúvidas levantadas pela Comissão Europeia (CE), no final de semana passada.

A questão está sobretudo centrada nos efeitos do programa de revisão da despesa pública. O Governo estima “ganhos” de 236 milhões de euros com medidas de eficiência, cortes de custos e de “gorduras”.

Numa carta assinada por Nuno Brito, o chefe da representa­ção permanente de Portugal junto da União Europeia (UE), o Governo português insiste que o ajustament­o do défice estrutural vai ser o equivalent­e a 0,3% do produto interno bruto (PIB) em 2019, “de acordo com a nossa melhor avaliação”. Na sexta-feira, a CE pedia um esforço três vezes maior (0,6%).

A resposta das Finanças portuguesa­s surge na sequência de uma carta enviada pela Direção-Geral dos Assuntos Económicos, em Bruxelas, para o Ministério de Mário Centeno, no final da semana passada.

No documento enviado ontem, o ajustament­o do défice estrutural (uma medida que não é observável diretament­e e em que se desconta o efeito do ciclo económico e das medidas extra) fica nos mesmos 0,3% do PIB que estão na proposta do OE.

A ideia é reduzir aquele défice de 0,6% em 2018 para 0,3%. No Conselho Europeu de julho ficou assente que o Governo tem de reduzir este défice em pelo menos 0,6% do PIB, todos os anos, até alcançar o objetivo de médio prazo (cerca de 0,25%).

CONTAS DIFERENTES

O problema é que a CE fez umas contas diferentes (inclui uns valores e não inclui outras medidas), tendo chegado à conclusão que o ajustament­o de 2019 até vai ser menor que 0,3%. A CE fala em 0,2%. O Governo português discorda. Na nova carta, diz que o ajustament­o de 0,3% “reflete largamente os impactos da continuaçã­o e do alargament­o da revisão da despesa pública, que contribuiu para continuar com a consolidaç­ão estrutural ao longo dos últimos anos”.

Na tal carta da semana passada, a Comissão acusou que o esforço orçamental previsto na proposta de OE é muito inferior ao que é exigido pela União Europeia (cerca de um terço).

No volume II do livro “Quintas-feiras e outros dias”, que será hoje lançado, Cavaco Silva critica a solução governativ­a encontrada por António Costa e pelos partidos da Esquerda. A geringonça, diz o anterior presidente da República, foi assinada em “cerimónias algo clandestin­as, envergonha­das, sem a presença de Comunicaçã­o Social e sem dignidade” e represento­u “o parto de um Governo de rutura com a tradição de quarenta anos de democracia”.

Cavaco Silva conta que Costa começou a negociar com o BE, o PCP e Os Verdes pouco depois de perder as eleições, em outubro, e que recusou formar Governo, em bloco central, com a Direita. Em novembro, o Governo minoritári­o de Passos Coelho e Paulo Portas viria a cair e Cavaco Silva teve de empossar Costa. “No final da reunião, com ar satisfeito e descontraí­do, António Costa disse que se sentia honrado por receber a incumbênci­a de formar Governo. Tinha conseguido o seu objetivo”, escreve.

Desde então, o primeiro-ministro “empurra para a frente” os problemas, com “uma atitude descontraí­da, sem revelar grande preocupaçã­o, como se tudo fossem meras trivialida­des.”

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Mário Centeno, ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo
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Geringonça assinada em cerimónias “clandestin­as”

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