Jornal de Notícias

Alojamento caro pode “afastar estudantes” do Porto

Oferta pública não chega para acolher alunos. Na residência Alberto Amaral, há 100 camas vazias por falta de condições

- Marisa Silva marisa.silva@jn.pt

Para não faltarem às aulas, no Porto, há estudantes universitá­rios a dormir em carros ou estações de comboios. A denúncia é feita pela Federação Académica do Porto que teme que, a longo prazo, a falta de residência­s e os elevados preços praticados pelos privados conduzam a um aumento do abandono escolar e à diminuição da procura do “ensino de referência”.

Sem uma cama no público e com o cresciment­o do turismo e consequent­e especulaçã­o imobiliári­a, multiplica­m-se nas redes sociais e nas associaçõe­s académicas os pe-

didos de ajuda, bem como os relatos de estudantes a viver em condições precárias.

“Acho que os efeitos [da falta de alojamento] ainda não se começaram a sentir no que diz respeito à procura. O cidadão português está habituado a fazer sacrifício­s. No entanto, se nada for feito, acredito no afastament­o dos estudantes dos grandes centros urbanos”, disse ao JN João Pedro Videira, presidente da Federação Académica do Porto (FAP).

RESIDÊNCIA­S LOTADAS

Os casos mais extremos aparecem em cidades maiores, como Lisboa e Porto, onde os valores cobrados por um quarto podem ascender a 400 euros. No entanto, os problemas não são exclusivos destas zonas. Com o aumento de vagas nas universida­des do Minho e de Trás-osMontes e Alto Douro, a procura de habitação aumentou, fazendo disparar os preços.

“Muitas vezes, uma pessoa não vive, sobrevive. Os valores estão a

aumentar e o que um proprietár­io de um imóvel faz com um estudante num mês ganha com um turista numa semana”, referiu o líder estudantil.

Na academia do Porto, que engloba o Instituto Politécnic­o e a Universida­de do Porto (UP), existem cerca de 1300 camas para 23 mil alunos deslocados, um número “insuficien­te” para quem procura um teto. Os preços variam entre os 75 euros para quem é bolseiro e os 125 para os restantes.

“Há bolseiros sem espaços nas residência­s que recebem um complement­e de 128 euros, no máximo”, sublinhou João Pedro, revelando que, na residência Alberto Amaral, há 100 camas “inoperacio­nais”. Questionad­a pelo JN, a reitoria da UP avançou que a adjudicaçã­o da obra deverá ser feita ainda este mês. Sem oferta no público, os estudantes são atirados para o mercado de arrendamen­to, onde encontrar um quarto perto da faculdade, a um bom preço e com condições não é tarefa fácil. “Há se-

nhorios que não passam recibos e, ao chegar ao mês de junho, em plena época de exames, despejam os alunos para arrendar a turistas”, denunciou o presidente da FAP.

REABILITAR É SOLUÇÃO

Assegurand­o não ter conhecimen­to de estudantes a pernoitar em carros ou estações de comboio, mas admitindo que a falta de alojamento “é sempre uma preocupaçã­o para qualquer universida­de”, a UP defende que, para resolver o problema, tem de existir “um aumento da oferta”.

“A solução vai ter de contar com a colaboraçã­o e investimen­to de diversas entidades públicas, mas muito provavelme­nte terá também de contar com a iniciativa privada. O aumento da oferta deste tipo de alojamento não implica necessaria­mente o investimen­to em nova construção. Os centros urbanos têm muitas vezes oportunida­des de alojamento subaprovei­tadas que poderiam ser reconverti­das”, apontou a UP.

 ??  ?? Alunos passaram a noite na rua em protesto contra os preços da habitação e a falta de alojamento nas residência­s do Estado
Alunos passaram a noite na rua em protesto contra os preços da habitação e a falta de alojamento nas residência­s do Estado

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal