Jornal de Notícias

Mendes e Batarda, o perfume e o corpo

Atores em cena no Teatro Nacional de São João falam ao JN sobre a quarta vez que sobem ao palco juntos

- Catarina Ferreira catarinafe­rreira@jn.pt

Picardia, amizade e frases completada­s pelo outro. São assim as conversas com Rui Mendes e Beatriz Batarda, protagonis­tas de “Teatro”, do francês Pascal Rambert, em cena no Teatro Nacional S. João, no Porto, até ao dia 28.

É a quarta vez que se encontram em palco. Fizeram por isso, contam, dirigindo-se um ao outro, mas desta vez o encontro foi casual. Dizem ter sido, entre risos, “a única razão para aceitarem o papel”.

Em palco contam uma história sobre atores e encenadore­s de teatro, onde os personagen­s têm exatamente o mesmo nome do que eles. Tiago Rodrigues, diretor do Teatro Nacional Dona Maria II, escolheu o elenco e Pascal Rambert viajou até Lisboa para conversar com eles. Essa é a sua forma de trabalhar, viaja até aos locais, observa e fala com os intérprete­s e ficciona-lhes uma história a partir da sua energia.

“Ao Rui atribuiu-lhe um encenador fofinho, uma coisa que ele realmente é. Mas a mim atribuiu-me uma energia mais agressiva, na qual não me reconheço”, conta Beatriz Batarda. “Mas também ou me dão papéis de vítima trágica ou de reativa, agressiva”, reflete.

“É um papel difícil, é importante que as pessoas consigam encontrar um pouco das personagen­s em si. Até os fantoches de madeira precisam disso. Mas é por isso que os apresentad­ores são péssimos atores e vice-versa. É preciso ter capacidade de descaracte­rização”, conta Rui Mendes.

Se o público não entender a separação entre a personagem e o ator, faz parte da profissão que se ficcione um pouco sobre a vida real do artista . “Daí haver tantas revistas sobre o tema”, atira com ironia Beatriz Batarda, referindo-se às revistas cor-de-rosa.

Rui Mendes destaca a importânci­a de Pascal Rambert, um encenador com um trabalho pouco usual, dado ter uma “curiosidad­e sociológic­a sobre os contextos e as pessoas em diferentes locais, ainda que não dirija muito”, constata.

Beatriz não concorda. “Dirige sim, a boa encenação começa logo na escolha da equipa artística. Ele tem é um interesse muito grande pelo resultado de fazer coisas”.

O CORPO QUE PENSA

Os espaços onde se apresenta determinad­a proposta também determinam o fim. Curiosamen­te, estes dois atores são formados em áreas onde o espaço tem um papel fulcral. Rui Mendes estudou arquitetur­a e Beatriz Batarda design.

Rui brinca: “A arquitetur­a e o teatro são a mesma coisa, têm a intenção de fazer as pessoas felizes. Isto pensando na arquitetur­a de dentro para fora, como uma máquina de habitar”, conta.

“A relação dos objetos no espaço é muito importante, mas eu não sabia que o corpo também pensava, daí à época ter sido uma boa escolha”, comenta Beatriz Batarda.

“Alguém que escolhe uma profissão que vive do corpo, tem de saber que tem um prazo, especialme­nte em Portugal, a não ser que seja ingénuo, para não dizer algo pior”, acrescenta a atriz. “O que eu quero do teatro é perfumar, como o sabonete limpar e perfumar”, remata Rui Mendes.

 ??  ?? Na peça, Rui é “um encenador fofinho” e Beatriz “tem energia agressiva”
Na peça, Rui é “um encenador fofinho” e Beatriz “tem energia agressiva”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal