A morte de uma eterna fazedora de sonhos
Maria Alberta Menéres, uma das pioneiras da literatura para os mais novos, morreu ontem aos 88 anos
Com livros como “Ulisses”, “Conversas com versos” ou “O poeta faz-se aos 10 anos”, chegou a muitos milhares de leitores, enriquecendo o imaginário coletivo de gerações com as suas histórias que aliavam a veia poética a um mundo encantatório onde o Mal não tinha lugar. Maria Alberta Menéres, uma das autoras mais significativas da literatura infantojuvenil portuguesa, morreu ontem à tarde. Tinha 88 anos e deixou uma obra vasta, que não se cingiu à escrita para os mais novos: a sua obra poética para adultos foi igualmente extensa (15 títulos) e premiada. Em 1960, venceu o Concurso Internacional de Poesia Giacomo Leopardi com o livro “Água-memória”.
O gosto pela escrita para as crianças atribuía-o a “infância feliz, que nunca terminou”, como recordou numa das últimas entrevistas que concedeu, em 2010, ao lado da filha, a cantora Eugénia Melo e Castro.
Natural de Vila Nova de Gaia, Maria Alberta Menéres licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Publicou o primeiro livro, “Intervalo”, em 1952, no mesmo ano em que concluiu o curso. A par do ensino e da escrita, dedicou-se a outras atividades. Foi o caso da direção de programas infantis da RTP durante 12 anos, de 1974 a 1986. Nesse ano criou o conceito do “Pirilampo Mágico”, campanha de caráter solidário que ainda hoje se mantém.
Ouvido pelo JN, o escritor António Mota recordou uma “amiga que gostava de ajudar os autores mais jovens”, destacando o convite que lhe endereçou no início dos anos 80 para participarem na série “Vitinho”. “Era sobretudo uma pioneira. Foi a primeira autora a deslocar-se às escolas para falar de livros”, lembrou.
No total, escreveu mais de uma centena de obras para crianças. “Ulisses”, a mais popular, já vai nas 45 edições e registou mais de um milhão de exemplares vendidos. A sua poesia para adultos vai ser reunida em breve num volume, anunciou ontem a Porto Editora, num comunicado em que lamentava a morte da autora e deixava “a certeza de que a sua obra perdurará”.