Dia da Língua é hoje
Associações aplaudem a ideia, mas preferem uma política mais ativa de defesa do Português
Sem uma política concertada da língua, efeméride “não tem valor”
Há seis anos que 5 de maio é sinónimo de Dia da Língua Portuguesa. Instituída pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a celebração pretende reforçar o papel do Português e da cultura lusófona no Mundo.
O dia de hoje não será exceção, com os temas da ciência e da inovação a servirem de base às comemorações, depois de no ano passado ter estado em evidência o potencial económico da língua.
Arlinda Cabral, responsável pelo serviço de tecnologia da CPLP, destaca o papel que o Dia da Língua tem desempenhado, “ao contribuir para atenuar diferenças e aproximar pessoas”, embora reconheça que a iniciativa padece de falta de visibilidade. “Ainda há muito por fazer”, diz. Guiné Equatorial ainda em falta A instituição de uma data que enaltece a língua é do agrado das associações encarregadas da defesa do Português. Mas, embora não discutam os méritos da ação, os responsáveis auscultados pelo JN salientam que a prioridade deveria ser outra.
Cofundador e responsável editorial do portal Ciberdúvidas, José Mário Costa adianta mesmo que a ideia “será destituída de valor se não houver políticas de concertação” entre os estados membros da CPLP.
Da ausência de uma simples coluna dedicada à língua portuguesa nas páginas dos principais jornais nacionais, passando pelo encerramento de leitorados de português em universidade nevrálgicas, até à inexistência de um simples prontuário gramatical nos PALOP, são vários os exemplos, segundo o mesmo interlocutor, de um grave des- leixo em redor da língua. Mas o exemplo que considera mais chocante é o da Guiné Equatorial, admitida a CPLP em 2014. “Os seus dirigentes comprometeram-se a adotar o Português como língua oficial, mas, passado este tempo, o portal do país continua apenas a estar em Inglês e Francês, os outros idiomas oficiais”.
Os receios de José Mário Costa de que a efeméride “se esgote nos discursos de ocasião” são partilhados por Francisco Nuno Ramos, membro do conselho diretivo do Observatório da Língua Portuguesa. O dirigente considera incompreensível que “o quarto idioma mais falado no Planeta, com 261 milhões de utilizadores, continue “sem dispor de uma política da língua”. Uma das medidas que poderia, em seu entender, contribuir para a expansão seria a obrigatoriedade de cada membro da CPLP assumir o ensino do idioma nos respetivos países limítrofes. “A prioridade tem que estar nos centros educativos da língua portuguesa”, defende.