Farmácias vão controlar obesos e diabéticos
Medida visa reduzir consumo excessivo de medicamentos Incentivos financeiros partilhados com unidades de saúde familiar
As unidades de saúde familiar (USF) e as farmácias vão colaborar em projetos-piloto que visam minorar problemas de saúde pública, como a diabetes e a obesidade, e reduzir o consumo excessivo de alguns medicamentos, nomeadamente os ansiolíticos e os fármacos para a acidez gástrica. Se desses programas resultarem ganhos em saúde e poupança, no futuro, poderá haver partilha de incentivos financeiros entre cuidados primários e farmácias.
O pontapé de saída desta união “inédita” entre USF e farmácias é dado hoje, em Lisboa, com a assinatura de um protocolo entre a Associação Nacional de USF (USFAN) e a Associação Nacional de Farmácias (ANF).
Segundo o protocolo, a que o JN teve acesso, o primeiro passo é identificar as zonas onde poderão ser implementados projetos de colaboração entre as USF e as farmácias comunitárias. Ao abrigo do acordo, os dois parceiros – público e privado – poderão colaborar em áreas como a literacia em saúde, a prevenção da doença, a prevenção quaternária (evitar o risco de sobremedicação), a promoção da saúde e autocuidados.
“É o início de um novo relacionamento. Vamos pôr os médicos, enfermeiros e farmacêuticos a partilhar conhecimentos, pôr os médicos a dizer o que esperam das farmácias e as farmácias a dizer o que esperam dos médicos, depois desenvolverem projetos-piloto local e temporalmente limitados”, explicou ao JN Humberto Martins, membro da direção da ANF.
“O principal objetivo é pôr estes interlocutores a falar a mesma linguagem, o que não é tão fácil como seria de esperar”, acrescenta João Rodrigues, presidente da USF-AN.
Na área da prevenção da doença, poderão ser traçados objetivos, como por exemplo, manter controlados metade dos diabéticos identificados numa região ou reduzir a incidência de novos casos num concelho. Se a meta for atingida e forem apurados ganhos em saúde, a ideia é que o incentivo contratualizado para o objetivo venha a ser partilhado entre as unidades de saúde e as farmácias que aderiram ao programa.
Por enquanto, não há projetos delineados nem remuneração associada. “Vamos primeiro desenvolver os projetos, implementálos, avaliar os resultados, ver se trazem melhorias para a saúde, se correspondem ao interesse do doente e poupam recursos. Só depois, chegaremos à remuneração”, assinala Humberto Martins.
“Queremos ter metas e áreas comuns de contratualização e repara partir o bolo dos incentivos por todos. É possível lá chegar”, acredita João Rodrigues.
Na área da prevenção quartenária, médicos e farmacêuticos vão colaborar para reduzir o consumo de benzodiazepinas (ansiolíticos) e de inibidores da bomba de protões (acidez gástrica), cujo consumo per capita em Portugal é dos mais elevados da Europa. Outro objetivo é diminuir o recurso às tiras de glicemia por parte dos diabéticos tipo 2, explicou o presidente da USF-AN.
USF e farmácias poderão partilhar incentivos financeiros se atingirem metas