Jornal Madeira

Comunidade madeirense exposta à covid-19

- Por Marco Sousa marco.sousa@jm-madeira.pt

Manuel Coelho é empresário na Namíbia. Emigrou para lá há 60 anos e é natural de Faro. É também conselheir­o das Comunidade­s Portuguesa­s eleito pelo Círculo da Emigração da Namíbia, tendo por isso uma relação muito próxima com a comunidade madeirense radicada neste país, situada principalm­ente em Walvis Bay, epicentro da pandemia de covid-19 na Namíbia.

Manuel Coelho é também comendador. “Em 1974, fui condecorad­o pelo Governo porque estive à cabeça do campo de refugiados em Angola, e daí a comenda do Governo pelos trabalhos que eu fiz aos portuguese­s refugiados na Namíbia”. Além disto, o empresário português é ainda vice-presidente do conselho regional das comunidade­s de África.

Walvis Bay afetada

O empresário português começou por falar um pouco sobre a situação pandémica no país. “Nós, em março, quando começou o ‘lockdown’, tínhamos 16 casos e não tínhamos morte nenhuma”, após isto, “no dia 4 de maio, passámos para um nível mais baixo do ‘lockdown’, em que abriram a indústria e o comércio, e está tudo a funcionar”.

O problema é que “desde aí, na zona litoral da Namíbia, que inclui Walvis Bay, onde existe uma grande comunidade de portuguese­s oriundos da Madeira, o maior núcleo de madeirense­s que estão todos ligados à pesca”, zona esta que, neste momento, “concentra mais de 240 casos dos cerca de 250 em todo o país”. Algo que é, de facto, preocupant­e para a comunidade madeirense que, devido à sua grande ligação à pesca, está exposta à covid-19.

As previsões na Namíbia apontam que o pico da pandemia ocorra em agosto e que se chegue até aos 700 casos. “Eu quero que fique por aí, porque, sabe, isto é muito difícil em África”, confessou.

O emigrante explica porquê: “Uma vez que os habitantes da Namíbia vivem em condições menos boas, por exemplo, são grandes aglomerado­s de famílias e moram em casas muito pequenas, onde não é possível existir distanciam­ento social, o risco de contágio é muito alto”, conclui.

A seu ver, existe ainda outro problema, “os nossos transporte­s aqui são só táxis, esses táxis são carros normais, não há autocarros, não há comboios, não há metros, não há nada, há só carros pequenos a transporta­r 5 e 6 pessoas para o trabalho todos os dias e que regressam todos os dias a casa”.

Devido à situação pandémica da cidade costeira de Walvis Bay, está atualmente “debaixo de um ‘lockdown’ total, não sabemos até quando, ninguém pode entrar nem sair da cidade e esperamos melhores dias”.

A comunidade madeirense

Seguiu-se uma abordagem à comunidade madeirense radicada neste país africano. “Conheço muito bem a comunidade madeirense e tenho contactos quase diários com eles”. Aos olhos de Manuel Coelho, os madeirense­s “não estão desprotegi­dos”, estão, isso sim, “um pouco desiludido­s com a situação que passou de 16 para 250 casos, tudo na cidade onde estão”.

O conselheir­o deixou uma boa nova nestes tempos difíceis: “Graças a Deus não temos mortes na Namíbia e, que eu saiba, não há nenhum português ou madeirense em Walvis Bay ou na Namíbia que esteja infetado com a covid-19, uma boa notícia”, afirmou, entre sorrisos.

A concluir, Manuel Coelho considera que não é necessário entrar em “pânico” neste momento. “Penso que nesta altura não, porque tanto eu como a Embaixada de Portugal, na pessoa do embaixador e dos funcionári­os consulares, estamos a acompanhar a situação e, neste momento, não há razão para nos estarmos a alarmar ou alertar o Governo português para uma eventual ajuda”.

O empresário avançou ainda que “o Governo está alertado e sabe o que está a acontecer, mas do nosso lado, da Namíbia, não houve pedido nenhum para Portugal porque pensamos que neste momento não há realmente razão para entrarmos em pânico e começarmos a pedir apoio já”, afiançou, ao JM, o comendador Manuel Coelho.

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Comunidade madeirense em Walvis Bay está muito ligada à pesca.
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