Jornal Madeira

Igualdade: um imperativo ético

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ACâmara Municipal de Santa Cruz assinala, amanhã, o Dia Municipal para a Igualdade. Vamos fazê-lo tornando público os resultados do diagnóstic­o social pela igualdade de género do Município de Santa Cruz, trabalho elaborado pela UMAR Madeira, e divulgando o protocolo de cooperação para a igualdade e não discrimina­ção que esta autarquia assinou com a Comissão para Cidadania e Igualdade de Género.

A igualdade de género tem sido, antes de mais, um imperativo ético na nossa ação enquanto órgão de poder local e de proximidad­e. Embora este não seja um pilar central da nossa atividade, sentimos que não podíamos ficar alheios aos desafios que ainda se colocam em termos de igualdade e à necessidad­e de garantir que a mesma se efetive. Foi com esta ideia e com esta necessidad­e em mente que criámos o nosso Conselho Municipal para a Igualdade e que, desde esse momento, temos feito um trabalho essencialm­ente de cariz educativo, nomeadamen­te junto da população escolar, jovem, e da população que, por razões sócio-económicas, se encontra mais vulnerável a todas as nuances que o problema da ausência de igualdade ainda acarreta.

Acreditamo­s que agir no momento certo pode fazer a diferença e pode levar a mudanças de atitudes e à consciênci­a de direitos.

Como em muitas outras áreas, em termos da igualdade de género é preciso agir para que depois não seja preciso reagir a factos consumados e a problemas que, depois de enraizados, são de difícil e complexa solução.

Este caminho, que envolve toda uma equipa motivada, tem sido trilhado com a consciênci­a de estarmos a comunicar com uma população jovem, em formação, a caminho da idade adulta e numa altura em que as relações efetivas começam a desenhar-se.

Falar de igualdade para jovens é, antes de mais, deixar claro que o sexo não determina nada à partida. Que nascer rapaz ou rapariga é apenas uma designação biológica e não um rótulo que dita privilégio­s ou impediment­os.

Rapazes e raparigas têm os mesmos direitos, as mesmas oportunida­des e nada está, à partida, vedado a uns e a outros. Há uma igualdade que deriva da nossa humanidade e não de uma qualquer diferencia­ção de sexo no Cartão de Cidadão. Aliás, a própria designação de Cartão de Cidadão atesta essa igualdade. Somos todos cidadãos com os mesmos direito e deveres, com as mesmas oportunida­des, com a mesma capacidade de conquista.

Apesar de tudo isto, sentimos que a realidade ainda não assegura a igualdade desejada e legalmente conferida. Ainda existem raparigas que aceitam no namoro uma posição submissa, e rapazes que ainda sentem ter, nessa mesma tipologia relacional, um papel onde ocupam uma posição de superiorid­ade hierárquic­a assente apenas no género. Este modelo de relação hierarquiz­ada é o que leva depois à aceitação de relações diferencia­das no mercado de trabalho, de violência em contexto familiar, e de tantos outros problemas que a desigualda­de sempre transporta.

O Conselho Municipal para a Igualdade é um organismo que tenta ter um papel que seja potenciado­r de mudança de comportame­ntos. Pessoalmen­te, este é um trabalho e uma missão que me é cara. Cresci num ambiente onde ainda se valorizava o “macho” em detrimento da rapariga, confinada a um lugar no lar e a poucas ambições que ultrapassa­ssem a soleira da porta e uma vida dedicado ao futuro marido. Felizmente, também cresci num ambiente com homens que sempre souberam lutar por mim e que deixaram muito claro que o limite das minhas conquistas não era o da minha identidade sexual, mas a minha vontade. Isso fez toda a diferença. E é esta diferença que temos todos de abraçar. Um organismo pela igualdade não é uma luta de mulheres, é uma luta de todos e será sempre uma vitória de homens e mulheres e de uma sociedade mais justa. Élia Ascensão escreve à quarta-feira, de 4 em 4 semanas

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