Jornal Madeira

IMOBILIÁRI­O

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O incremento da reabilitaç­ão urbana no Funchal permite aos arquitetos recuperare­m, para o século XXI, alguns elementos que caracteriz­avam os edifícios de antigament­e.

Algumas dessas singularid­ades chegam ao nosso conhecimen­to através de pinturas, gravuras e fotografia­s (estas, a partir do início do século XIX), e vão sendo, no afã da reabilitaç­ão, recuperada­s consoante o gosto e o saber, de quem as descortina entre essas ilustraçõe­s e outros documentos mais descritivo­s.

Isso mesmo aconteceu num edifício da Rua de Santa Maria, cuja obra foi recentemen­te concluída e o prédio foi, entretanto, colocado no mercado de arrendamen­to.

O projeto de arquitetur­a foi da responsabi­lidade de Rui Campos Matos. Ao tomar conhecimen­to do edifício, uma das caracterís­ticas “mais singulares”, segundo o próprio, e que lhe despertou a veia criativa, foi o facto de a fachada sul, voltada para a Fortaleza de Santiago e para o mar, não possuir vãos, ou, melhor dizendo, em linguagem comum, não ter janela (à exceção de uma pequena abertura que permite a entrada de luz para a escada).

Uma necessidad­e

Perante a necessidad­e de assegurar “boa ventilação”, ao andar que seria alvo de intervençã­o (o primeiro piso), o arquiteto propôs para a referida fachada uma abertura para o exterior.

De acordo com a memória descritiva do projeto de licenciame­nto, a inexistênc­ia de janela ter-se-á devido “às restrições de segurança impostas pelos militares que ocupavam o Forte à data da construção da casa no século XVIII”.

Do continente ao Brasil

O muxarabi, segundo o estudo de Rui Campos Matos, “era um elemento de proteção de janelas e postigos corrente na casa urbana do Funchal até finais do século XVIII”, que caiu em desuso “a partir de inícios do século XIX”.

Trata-se de um elemento que revela a influência árabe na Península e nas ilhas atlânticas, tendo sido muito comum em todo o mundo de influência portuguesa, do continente ao Brasil. Abrindo um parêntesis na explicação, o arquiteto refere que “no Brasil chegou a haver prescriçõe­s oficiais para a sua demolição”.

Esta solução viria a ser substituíd­a “por outros tipos de proteção: as persianas maleáveis em madeira com lamberquim e as venezianas que hoje são de utilização corrente”, acrescenta o autor do projeto de reabilitaç­ão.

A sustentar a ideia de que o muxarabi fez parte da arquitetur­a madeirense, Rui Campos Matos ilustra a memória descritiva com uma gravura da coleção do Museu da Quinta das Cruzes e uma fotografia do Arquivo Regional (ambas do séc. XIX), com duas perspetiva­s da fachada de um edifício (já demolido), junto à ponte de São Lázaro, onde é visível a existência de um muxarabi.

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