“Se não é discriminação, estamos a falar de negligência”
Mais de duas dezenas de profissionais juntaram-se este sábado em frente à Sé Catedral do Funchal para participar na vigília pela cultura e artes da Região.
Cada um dentro do seu quadrado, desenhado no chão com fita, de frente para a igreja, um local escolhido também ele por carregar um determinado simbolismo, procuraram expor as desigualdades entre o seu setor, aquele que estava diante si e os demais.
Esta iniciativa foi organizada por Luís Pimenta, Ricardo Brito e Marta Sofia, com vista a sensibilizar os órgãos governamentais para que, sobretudo, sejam levantadas as medidas impostas aquele setor, que vê desde janeiro o limite de cinco pessoas por sala de espetáculo, e para a difícil situação financeira em que estes profissionais se encontram.
Todos os desígnios desta vigília foram expostos em alto e bom som pela voz de Luís Pimenta. “É chegado o momento dos profissionais da cultura da RAM, os que sobram e os que não estão silenciados, saírem à rua (...) manifestando-se contra a forma como têm sido vedados à entrada, desprezados, banidos e ignorados pelo Governo Regional, pela Assembleia Legislativa da Madeira, bem como pela DGS”, começou por proferir Luís Pimenta.
Prosseguindo, lembrou que a vigília procurou agregar todos aqueles que viram as suas produções adiadas e as suas vidas em pausa por consequência da pandemia, aguardando que “alguém decida quando podem voltar a exercer a sua profissão com dignidade”.
Cristiana Nunes, atriz e figurinista do Teatro Bolo do Caco, foi uma das vozes que se fez soar ontem em frente à Sé e teceu duras críticas à Secretaria Regional que tutela o setor da Cultura.
“Aquele que deveria ser o líder, conduzir ao desenvolvimento, se preocupar em mesclar com os artistas, não está a fazê-lo (...) Se temos um órgão governamental que não o faz, quem é que precisa dele?”, vincou.
Lamentando o facto de a tutela “não estar a assumir
“Estamos em frente à Sé Catedral do Funchal, (…) um espaço religioso que, neste momento, pode albergar até 50% da sua capacidade, demonstrando que estas medidas são discriminatórias e pouco claras no sentido do combate à pandemia”, assinalou, lembrando também que os espaços comerciais e de restauração se encontram em funcionamento, com restrições muito menos apertadas. um papel protetor”, a artista lembra que as medidas de proteção social que têm sido implementadas em outros setores não têm chegado aos trabalhadores da cultura.
“Se permitirem em diversos setores determinadas formas de funcionamento, como foi discutido nos serviços públicos, nos supermercados, nos locais de atendimento (…) porque é que não é igual para a cultura? Se não é discriminação, estamos a falar de negligência”, concluiu.
Apesar de reconhecer que o Governo Regional tem vindo a adotar medidas de apoio financeiro para que determinadas associações consigam manter o seu plano de atividades, o artista afirmou que estas estratégias “apenas abrangem uma parte já de si beneficiada pelos apoios governativos”.
Como tal, o organizador aponta que “urge por parte do Governo Regional um levantamento das medidas impostas ao setor da cultura e das artes”, considerando importante definir e legislar as estratégias de futuro do setor. “Exigimos ao nosso Governo Regional a urgência de colocar o setor da cultura e das artes no lugar de dignidade e decência que foi usurpado ao longo de anos de má conduta e gestão”, destacou.
Discrepância entre setores
Em apenas um ano esta é a segunda vigília realizada, numa espécie de “grito de alerta” para que as entidades governamentais deem suporte a estes profissionais.
Ricardo Brito, profissional independente e outro dos organizadores da vigília, é um dos muitos artistas que ao longo do ano que findou foi realizando alguns trabalhos pontuais, mas deixa claro que só conseguiu subsistir devido às ajudas.
“Se não fosse o apoio que a Segurança Social atribui para a quebra de atividade de trabalhadores independentes (…) e as medidas complementares do Instituto de Emprego seria muito difícil conseguir levar o dia a dia”, admitiu, ressalvando, no entanto, que as “restrições no setor não têm acompanhado os apoios dados”.