A lição de vida da médica que superou a morte
“A doença deixou-me surda, espalhou tumores pelo corpo, deformou-me. Falo a arrastar. “Tirou-me forças!” ,diz ao JM a médica madeirense. E acrescenta: “matou-me filhos! Mas não me tirou a vontade de viver!”
Luísa Abreu dos Santos vive um drama desde os 22 anos. A médica, natural do Paul do Mar, sofre de uma doença rara que a deixou surda, obrigou a cinco operações delicadas e uma passagem pela unidade de cuidados paliativos. Mesmo assim continua a exercer medicina. Lamenta não ter conseguido ser mãe, mas mantém a luta pela vida. E faz da sua determinação um exemplo.
“Sou a prova de que é possível sobreviver ao fim do mundo e acreditem que o meu mundo já implodiu vezes sem conta…”, esta é uma passagem do livro ‘Acreditar e Vencer - A médica que superou a morte’ e que testemunha, ao pormenor, a vida de uma profissional madeirense, natural do Paul do Mar, debilitada por uma herança genética extremamente rara – a neurofibromatose 2 - que lhe surgiu na vida quando tinha apenas 22 anos. Precisamente na altura em que o pai faleceu, em 2005.
Filha, neta e sobrinha de três médicos, Luísa Abreu dos Santos [assim se chama este ‘furacão’ de mulher] fez também da medicina a sua missão, exercendo, atualmente, no Centro de Saúde de Santo António, onde encontra, nos seus pacientes, uma força enorme para continuar a lutar, de todas as formas e feitios, contra a morte, que, de vez em quando, teima em se aproximar e até empurrar a paulense para o leito de uma cama.
Mas, vamos por partes.
Era um domingo. O único dia da semana que Luísa Abreu dos Santos tem mais tempo para conviver e fazer tarefas que vão para além da sua atividade profissional e das sessões que tem de realizar, diariamente, para atenuar os efeitos dramáticos da sua doença. A simpática médica recebeu-nos em sua casa, no Funchal.
Apesar das dificuldades de mobilidade, ditadas pela débil saúde, fez questão de descer o prédio [de elevador] e de nos receber à entrada principal. No elevador, cumprimos a etiqueta respiratória mas, já dentro da casa de Luísa Abreu dos Santos, tivemos de ‘infringir’ regras.
É que a neurofibromatose 2, que a médica descobriu aos 22 anos e escondeu da mãe, durante algum tempo, para não a fazer sofrer, é surda. Completamente surda. E precisa de nos ler os lábios para poder responder às nossas perguntas.
Ainda antes da conversa começar, avisou-nos que tem muita sensibilidade à luz e que, por isso, precisava de ficar numa cadeira com as costas voltadas para a rua. Escolhido o melhor local para a conversa decorrer o mais confortavelmente possível, Luísa Abreu dos Santos começou a contar a sua história, que, acreditem, é repleta de tragédias. Ainda assim, sorri. Não deita uma lágrima. Nem sequer quando fala de um grande sonho: o de ser mãe. Luísa Abreu dos Santos tem dois embriões numa clínica a aguardar autorização para que os possa enviar para a Ucrânia para serem estudados. Já teve planos de ter um filho através de uma barriga de aluguer. Até já tinha uma mulher que se ofereceu para ‘carregar’ no útero a sua criança. Mas tudo foi por