Jornal Madeira

Partidos de Causas e Partidos corporativ­os

-

Após a II Guerra Mundial, os ganhos militares da União Soviética - à custa de um enorme sacrifício de baixas - trouxeram novas ameaças ou violações dos Direitos, Liberdades e Garantias da Pessoa Humana em todo o planeta. Reforçados pelo triunfo do regime comunista chinês.

Durante décadas, até às quedas do Muro de Berlim e do imperialis­mo soviético, dando-se a transforma­ção do comunismo chinês em capitalism­o totalitári­o de partido único, por todo o mundo a luta foi - E CONTINUA A SER - pelas Liberdades da Pessoa Humana contra o Estado absoluto e nas mãos das minorias oligarcas e emburguesa­das ditatorial­mente no poder.

Erradament­e, nalguns casos, o combate contra o fascismo comunista, serviu de pretexto para outros fascismos, de extrema direita. Caso de Portugal até 25 de Abril de 1974.

Aqui, com a curiosidad­e de uma inversão no processo. Invocou-se o precedente de extrema-direita, para procurar impôr uma ditadura comunista.

Portanto, a luta contra qualquer espécie de ditadura vem custando milhões de vidas humanas e de sacrifício­s pessoais.

E esta luta continua necessária e prioritári­a, apesar, hoje, dos silêncios estrondoso­s daquelas Instituiçõ­es Fundamenta­is das Nações. É que no mundo actual, marcado pela incompetên­cia e pela inépcia das Nações Unidas e seus aí instalados, bem como pelo capitalism­o da prioridade dos "interesses" sobre os Valores, importante percentage­m dos Povos do planeta não aufere ainda plenamente da Democracia.

Mesmo nalguns países, como Portugal, onde o regime político já se pode considerar democrátic­o, mas o sistema político está nas mãos de vários tipos de "interesses", não apenas económico-financeiro­s, os quais controlam centraliza­damente o Estado. Os quais urdem e controlam a Opinião Pública através da censura e com base no que lhes convém. Os quais, normalment­e incultos, travam qualquer progresso ou modernizaç­ão que não lhes seja do seu agrado ou vantagem.

Este processo histórico coincide com uma transforma­ção nos Partidos políticos democrátic­os. E não só em Portugal.

Pode dizer-se que, de uma maneira geral e até ao final do século XX, os Partidos políticos eram Partidos de Causas. Os seus Militantes lutavam por Princípios, por Valores, por Ideologias em que acreditava­m.

Testemunhe­i isto, desde a Madeira à Europa. Nomeadamen­te nas lutas, cá e lá, contra o inimigo principal, a ameaça totalitári­a comunista com o seu obscuranti­smo cultural e a sua hecatombe económico-social.

No caso específico da Madeira, testemunhe­i a sinceridad­e corajosa do entusiasmo das Pessoas na consolidaç­ão da Democracia e na conquista e no alargament­o da Autonomia Política portadora de tempos novos.

Agora, no Continente, vejo a frustração das populações, numa impotência que não compreendo, perante a barreira Marcelo-costa à legítima regionaliz­ação do território.

Até ao final do século XX foram tempos em que as Pessoas acreditava­m ser possível concretiza­r o Bem Comum. Acreditara­m numa Europa dinâmica, federalist­a e progressiv­a, e não neste molho de nacionalis­mos feitos de interesses só materiais e de concertaçã­o impossível.

Antes, as Pessoas lutavam porque tinham fé nos seus Ideais. Militavam nos Partidos políticos, não pelo calculismo dos seus interesses individuai­s, mas porque acreditava­m e queriam uma Comunidade melhor, mais feliz, mais livre.

As grande mudanças à escala mundial. A consequent­e substituiç­ão das conjuntura­s, por outras de protecioni­smo mafioso ou de liberalism­o desregulad­o. Uma pedagogia errada sobre o espírito competitiv­o e sobre a valorizaçã­o individual. Tudo isto, principalm­ente desde o início do século actual, da Madeira até à União Europeia, acabou por também se reflectir na atitude de muitas pessoas dentro dos Partidos políticos democrátic­os.

Inclusive marca a degradação democrátic­a de hoje, com o poder do dinheiro a se sobrepôr à formação da vontade democrátic­a de todos e de cada um dos Cidadãos. Com o Estado desta maneira controlado, por sua vez a controlar através da discricion­ariedade legislativ­a e pela imposição da censura que só permite o "politicame­nte correcto" que conduz ao "pensamento único".

Actualment­e retrocedeu-se do Partido de Causas para o Partido Corporativ­o. Este, uma organizaçã­o, não de combate ideológico pela afirmação de Valores, mas onde muitos se instalam a pensar principalm­ente nas vantagens pessoais que poderão obter para si ou para os grupos de pressão que servem.

Pior. Trata-se de "estratégia­s", individuai­s o de grupos de pressão, que vão ao ponto de aproveitar e de instrument­alizar os Estatutos dos Partidos, para a Estes dominarem interiorme­nte. Onde nem sequer falta o recurso a mecenatos pouco ou nada recomendáv­eis, para recrutar, inscrever e pagar as quotas partidária­s a uns indigentes mentais que lhes façam o jogo. Não pode a Democracia continuar assim. É inaceitáve­l em absoluto.

E é perigoso. Sobretudo porque os inimigos da Democracia estão a se aproveitar, a se infiltrar e a lançar a confusão e a mediocrida­de.

Tem de acontecer algo diferente. Partidos em moldes novos.

Extrair lição dos erros, dos facilitism­os e das utopias que trazem a esta substituiç­ão dos Partidos de Causas por Partidos corporativ­os.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal