Militantes do CDS perplexos exigem mais explicações
Apanhados de surpresa e perplexos. Foi assim que dirigentes do CDS receberam a notícia do financiamento do partido através de contas pessoais. Dizem que as explicações dadas até agora não chegam.
A forma como o Cds-pp/madeira financiou parte da campanha das eleições regionais de 2019, com recurso a contas pessoais do presidente do partido, Rui Barreto, e de pessoas da sua “confiança”, gerou “perplexidade” nos militantes e uma grande vontade de obter mais explicações da direção.
Nem as explicações dadas na reportagem ‘A grande ilusão’, nem o comunicado que surgiu logo após a emissão da SIC foram suficientes para altos quadros do partido, que agora vão exigir mais esclarecimentos na Comissão Política do Cds-pp/madeira, marcada para as 11h30 deste sábado.
“A notícia é demasiado impactante para que aquele comunicado um pouco simplista seja suficiente para preencher todas as nossas questões”, expressou ao JM Sara Madalena, presidente da concelhia do CDS na Ponta do Sol.
A dirigente, que no passado já admitiu vir a disputar a liderança interna do partido, deu ontem voz à “perplexidade” que muitos militantes sentiram ao assistir à reportagem que mostra como o principal financiador do Chega emprestou dinheiro ao CDS.
Ainda que tivesse conhecimento das dificuldades de acesso à banca em 2019, não sabia “os meandros económicos e financeiros internos” do partido. “Eu fui apanhada de surpresa”, disse.
Não obstante, a presidente da concelhia da Ponta do Sol dá o benefício da dúvida e vai esperar pelas explicações na comissão política para criar “uma opinião realmente formada”.
“Uma notícia daquelas com aquele sensacionalismo é natural que provoque repercussões em quem a assiste, mas fazendo eu parte do partido que é visado na peça, e de acordo com os princípios da calma e da ponderação, não posso mais do que aguardar pela reunião de sábado para esclarecer internamente o que é que aconteceu, ouvindo as duas versões, e a partir daí formar uma opinião como deve ser”, referiu.
Sara Madalena mantém a sua disponibilidade de vir a disputar a liderança interna no futuro, mas garante que a reportagem da SIC não aumentou nem diminuiu essa intenção.
“A vontade mantém-se intocada e não se altera - nem acrescenta nem diminuiu em função do que acontecer para a frente”, afiança.
Sobre a sua participação na reunião de sábado, garante que vai para ouvir, mas que se as explicações não forem suficientes vai intervir para interrogar a direção.
O mesmo tenciona fazer Pedro Pereira, presidente da Juventude Popular na Madeira.
Para o presidente da JP, “não é normal” que as contas pessoais do presidente e de quem lhe é próximo sejam usadas para receber empréstimos para o partido. “Não é uma coisa a que eu esteja habituado, não sei se noutros partidos isso já aconteceu”, comentou.
Mas Pedro Pereira está preocupado com a “imagem” que a questão transmite para os madeirenses, que “não é positiva”.
Ainda assim, defende que “as pessoas têm direito a dar o seu esclarecimento” e “não podem ser castigadas pela aparência de uma coisa”.
Neste sentido, espera que na reunião de sábado “haja um esclarecimento cabal e contundente, principalmente para os madeirenses, porque é a credibilidade do partido” que está em causa.
Sobre as consequências políticas, Pedro Pereira afirma que devem ser vistas após os esclarecimentos dados na reunião. Mas caberá a “cada um achar se tem, ou não, condições para continuar a desempenhar as suas funções”. Se fosse consigo, “pensaria duas vezes”, admite.
O JM contactou outros membros destacados do partido, havendo quem recusasse comentar o caso e quem expressasse a sua preocupação, mas preferisse manter alguma reserva.
Disseram-nos, por exemplo, que o partido não pode ser financiado por pessoas, mas apenas por instituições, e que pretendem ouvir um esclarecimento “claríssimo sobre o que aconteceu e porque aconteceu assim”.
Mostram-se ainda perplexos que este financiamento tivesse sido feito nas costas da estrutura nacional do partido. “O partido vai contrair um empréstimo e não diz nada à estrutura nacional?”, questiona um reputado membro centrista, aludindo à reportagem que adianta, a dada altura, que o CDS nacional desconhecia o caso. “Outros tempos…”, atirou.
O impacto da notícia sobre a credibilidade do partido deixou militantes a dormir mal, agastados por verem o CDS envolvido num escândalo desta natureza.