Jornal Madeira

16 meses após acusação, processo do autocarro continua

- Por Alberto Pita albertopit­a@jm-madeira.pt

O processo da queda de um autocarro que vitimou mortalment­e 29 turistas alemães no Caniço continua no Ministério Público, 16 meses após ser conhecida a acusação.

Em resposta ao JM, o Ministério Público, coordenado na Comarca da Madeira pela procurador­a Isabel Dias, informou que “o inquérito ainda se encontra nos serviços do Ministério Público, uma vez que se solicitou colaboraçã­o internacio­nal com vista à notificaçã­o dos ofendidos e familiares das vítimas”.

Enquanto essas diligência­s não terminarem, “o inquérito não pode transitar para a fase seguinte sem decorrerem os prazos da abertura da instrução, os quais só se iniciam após a notificaçã­o dos interessad­os”, acrescento­u.

Continua assim o processo sem passar para qualquer fase jurisdicio­nal (instrução ou julgamento), apesar de o Ministério Público ter chegado a uma conclusão num espaço relativo curto de tempo.

Com efeito, foram precisos cerca de oito meses para o procurador fazer o despacho de acusação, no que seria, supostamen­te, a fase mais demorada do inquérito.

A dificuldad­e para notificar os ofendidos e os familiares das vítimas já traduz um período temporal superior ao que correspond­eu toda

A queda do autocarro de turismo causou quase três dezenas de mortes.

a investigaç­ão.

A queda do autocarro aconteceu faz amanhã dois anos.

Além das 29 mortes, o acidente causou ferimentos em outros 27 ocupantes do autocarro.

A acusação do Ministério Público concluiu que o motorista do veículo foi responsáve­l pelo acidente, por ter assumido uma “condução desatenta, imprudente e sem a observânci­a do cuidado que lhe era exigível”.

O arguido José Guilherme Sousa é, por isso, acusado da prática de 29 crimes de homicídio por negligênci­a e cinco crimes de ofensas à integridad­e física, três na forma grave e dois na simples.

O arguido pediu a abertura de instrução em fevereiro de 2020, mas como o processo permanece nas mãos do Ministério Público, essa parte continua parada.

De acordo com o despacho de acusação, a 17 de abril de 2019, pouco antes das 18h30, o arguido José Guilherme Sousa recolheu os passageiro­s e a guia turística em frente ao Hotel Quinta Splendida para transportá-los para o Funchal, onde os esperava um “típico jantar madeirense”.

O motorista iniciou a marcha do autocarro, descendo a Estrada da Ponte da Oliveira. “Sucede, porém, que o arguido conduziu o autocarro ao longo do arruamento sem a devida atenção, de maneira imprudente e sem empregar o cuidado que lhe era exigível e que deveria, poderia e era capaz de adotar”, refere o MP.

A dado momento, o autocarro galgou o passeio, com a terceira mudança engrenada, e acabou por embater numa paragem do autocarro. Depois, ao aperceber-se que no passeio circulava um peão em sentido contrário e para não o atropelar, virou bruscament­e em vez de travar. Foi bater ao outro lado da estrada e tentou imobilizar o veículo arrastando-o contra a parede, mas sem sucesso. Tentou fazer a curva já com o autocarro descontrol­ado, porém, acabou capotando para um terreno.

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