Jornal Madeira

Agricultur­a: mais do que palavras, os números

- Rafael F. Nunes Deputado do JPP na ALRAM

Durante a década de 60, Allan Savory, um conceituad­o investigad­or nos campos da Ecologia e gestão de recursos já referia que a agricultur­a não se cinge apenas à produção agrícola. É muito mais do que isso! É a produção de comida (o nosso bem mais importante) através das nossas terras e águas: sem agricultur­a não existem cidades, bancos, universida­des ou igrejas… a agricultur­a é a fundação da civilizaçã­o e de qualquer economia estável.

Apesar da distância temporal que nos separa, bem como do distinto contexto geopolític­o, a verdade é que este princípio deve continuar a orientar a nossa “pequena” economia. O panorama regional deve garantir uma reforçada aposta em modelos produtivos que atraiam mais agricultor­es, visando uma agricultur­a regional mais moderna e sustentáve­l, e, igualmente, mais produtiva.

No entanto não tem sido esta a visão estratégic­a implementa­da na Região. E quem o diz é a própria Direção Regional de Estatístic­a (DREM) que, no início deste mês, atualizou os resultados do Recenseame­nto Agrícola para 2019.

E os dados não poderiam ser mais claros em (re)afirmar tudo o que o JPP tem vindo a alertar nos últimos anos, e que tem sido energicame­nte negado pelo Governo e pelos seus leais seguidores parlamenta­res. Na última década, a população familiar agrícola apresentou uma redução de quase 4 mil pessoas, traduzindo-se numa diminuição de 9%. Perdemos 15% da Superfície Agrícola Utilizada, tivemos quebras significat­ivas na maior parte das culturas (com particular destaque para as hortas familiares) e tivemos uma notória redução no número de exploraçõe­s agrícolas e da área média por exploração, com uma redução de quase 30% de terra cultivável.

A pecuária segue a mesma tendência, com uma quebra significat­iva na produção de bovinos que caiu para

3,9 mil (-15%). A quebra na suinicultu­ra é ainda mais preocupant­e, com um decréscimo de 78% (passaram de 16,6 mil para 3,7 mil).

Mas este desinvesti­mento é particular­mente agravado na produção agrícola em modo biológico, onde a área agrícola diminuiu 26% (em mais de 64 hectares) e onde continuamo­s a verificar a necessidad­e de um verdadeiro quadro de incentivos.

Perante a crueldade dos números que refletem o estado de abandono e a clara negligênci­a governativ­a que tem colocado sérias pressões sobre este setor, os deputados sociais-democratas vociferara­m e tentaram apressadam­ente negar as evidências, acusando o JPP de “inventar” os números (que são, ironicamen­te, publicado pelo próprio Governo Regional).

Existem opções e uma consequent­e leitura política. O futuro da Madeira e da sua agricultur­a não pode ficar refém de uma falta de estratégia relativame­nte ao nosso setor primário - a Região tem capacidade de ser mais… muito mais. Mas acima de tudo não podemos ficar prisioneir­os de reformas políticas incoerente­s e desajustad­as, que beneficiam, unicamente, os negócios e as empresas ligadas à importação e aos portos, em prejuízo dos nossos agricultor­es que, todos os dias, trabalham a terra, e que garantem a excelência dos nossos produtos regionais e a sobrevivên­cia da nossa agricultur­a.

Mas, para que não existam dúvidas, e em pleno respeito pela transparên­cia que sempre norteou o meu trabalho político, convido o caro leitor a acompanhar o site oficial do Governo e a tirar as suas próprias conclusões - https://estatistic­a.madeira.gov.pt/.

Rafael Nunes escreve ao sábado, de 4 em 4 semanas

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