A (nada) subtil arte de meter água
Aágua é fundamental para o planeta tendo nela surgido as primeiras formas de vida. Compõe 70% do corpo, sendo o mais importante elemento para a vida. Não é um recurso infinito: 3 % da água do mundo é doce, mas mais de 99% encontra-se congelada nas regiões polares ou é subterrânea. É um recurso cada vez mais valioso, essencial para a economia (desde a agricultura, à indústria ou aos serviços). A nossa região tem recursos hídricos naturais que fluem mais a norte que a sul, sendo mais escassos no verão. A captação e redirecionamento não ocorre livre de encargos.
É uma informação trivial? Qualquer criança de 10 anos sabe? Olhe que não….
A montante, nas zonas altas da nossa cidade, nomeadamente em São Roque a interrupção de fornecimento de água tem vindo a causar enormes incómodos aos consumidores (pagadores) sem qualquer ressarcimento (ou justificação clara), enquanto a jusante brota fluentemente, perdida, na cota 40 ou na rua que banha o Palácio do Esmeraldo. Em São Pedro são inúmeras as perdas de água. Uma delas, localizada no estacionamento do Bairro do Hospital, por tão perene, poderia ser assinalada no mapa como nascente de curso de água (a Google já deve estar a tratar disso, só falta “batizar”). Estes factos notórios não são consentâneos ao (enorme) investimento no sistema de deteção informático, inteligente de fugas “escondidas”, pelo simples facto de as mesmas serem visivelmente inundantes das vias públicas. Não lava a vergonha de quem, ao invés de investir no sistema físico, aposta no virtual.
A peça de literatura demagógica vertida a azul no verso das contas da água é um estratagema inventivo de propaganda que visa vazar areia, ao invés da almejada água, sobre os olhos que quem paga um serviço caro e defeituoso e visa simplesmente ameaçar um infundado aumento de 22% no preço da água, camuflando os factos reais, que se resumem ao seguinte:
A CMF deve mais de 29 milhões (leu bem) à ARM referente a água e resíduos, tendo lucrado com a venda (da água que não pagou) em aproximadamente 50 milhões. Não paga, ainda que tenha perdido até à data todas as ações e esquiva-se na manobra dilatória, dando como garantia o Palácio da Justiça, o Quartel de Bombeiros Voluntários e casas de habitação social! A ARM não corta a água à CMF (como a CMF corta aos munícipes quando não pagam a conta), ciente da importância da manutenção do fornecimento aos munícipes consumidores que são alheios ao comportamento lesivo da CMF, porque estes seriam os verdadeiros prejudicados. Assim, coloca em risco a ARM e os seus 780 trabalhadores e a própria capacidade da ARM continuar a fornecer água e serviços aos Madeirenses, tanto ao nível da água potável como da água para a agricultura.
Todos os municípios cumprem o mesmo precário (conforme fornecimento prestado). Querem um desconto especial? Saldos de verão na conta da água? Uma “borla”? Aprenderam a não pagar nada com a anedota d “O Sócrates na churrascaria”? (“o Sócrates” encomenda dois frangos, mas vê quatro codornizes e pede para as levar em vez dos frangos e faz menção de sair. O empregado informa-o de que ele não pagou as codornizes. Ele responde: “Eu não comprei as codornizes: troquei-as pelos frangos.” Diz o empregado: “Mas também não pagou os frangos.” “O Sócrates” responde: “Mas também não os estou a levar, pois não?”)
Dispõem do verão para “meter água a céu aberto” à conta do munícipe (e da região), o mesmo tempo de que estes mesmos munícipes dispõem para se decidir a “fechar a torneira” a quem paradoxalmente, “mete água”, desperdiçando-a.
Patrícia Brazão de Castro escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas