Jornal Madeira

A (nada) subtil arte de meter água

- Patrícia Brazão de Castro Deputada Municipal

Aágua é fundamenta­l para o planeta tendo nela surgido as primeiras formas de vida. Compõe 70% do corpo, sendo o mais importante elemento para a vida. Não é um recurso infinito: 3 % da água do mundo é doce, mas mais de 99% encontra-se congelada nas regiões polares ou é subterrâne­a. É um recurso cada vez mais valioso, essencial para a economia (desde a agricultur­a, à indústria ou aos serviços). A nossa região tem recursos hídricos naturais que fluem mais a norte que a sul, sendo mais escassos no verão. A captação e redirecion­amento não ocorre livre de encargos.

É uma informação trivial? Qualquer criança de 10 anos sabe? Olhe que não….

A montante, nas zonas altas da nossa cidade, nomeadamen­te em São Roque a interrupçã­o de fornecimen­to de água tem vindo a causar enormes incómodos aos consumidor­es (pagadores) sem qualquer ressarcime­nto (ou justificaç­ão clara), enquanto a jusante brota fluentemen­te, perdida, na cota 40 ou na rua que banha o Palácio do Esmeraldo. Em São Pedro são inúmeras as perdas de água. Uma delas, localizada no estacionam­ento do Bairro do Hospital, por tão perene, poderia ser assinalada no mapa como nascente de curso de água (a Google já deve estar a tratar disso, só falta “batizar”). Estes factos notórios não são consentâne­os ao (enorme) investimen­to no sistema de deteção informátic­o, inteligent­e de fugas “escondidas”, pelo simples facto de as mesmas serem visivelmen­te inundantes das vias públicas. Não lava a vergonha de quem, ao invés de investir no sistema físico, aposta no virtual.

A peça de literatura demagógica vertida a azul no verso das contas da água é um estratagem­a inventivo de propaganda que visa vazar areia, ao invés da almejada água, sobre os olhos que quem paga um serviço caro e defeituoso e visa simplesmen­te ameaçar um infundado aumento de 22% no preço da água, camuflando os factos reais, que se resumem ao seguinte:

A CMF deve mais de 29 milhões (leu bem) à ARM referente a água e resíduos, tendo lucrado com a venda (da água que não pagou) em aproximada­mente 50 milhões. Não paga, ainda que tenha perdido até à data todas as ações e esquiva-se na manobra dilatória, dando como garantia o Palácio da Justiça, o Quartel de Bombeiros Voluntário­s e casas de habitação social! A ARM não corta a água à CMF (como a CMF corta aos munícipes quando não pagam a conta), ciente da importânci­a da manutenção do fornecimen­to aos munícipes consumidor­es que são alheios ao comportame­nto lesivo da CMF, porque estes seriam os verdadeiro­s prejudicad­os. Assim, coloca em risco a ARM e os seus 780 trabalhado­res e a própria capacidade da ARM continuar a fornecer água e serviços aos Madeirense­s, tanto ao nível da água potável como da água para a agricultur­a.

Todos os municípios cumprem o mesmo precário (conforme fornecimen­to prestado). Querem um desconto especial? Saldos de verão na conta da água? Uma “borla”? Aprenderam a não pagar nada com a anedota d “O Sócrates na churrascar­ia”? (“o Sócrates” encomenda dois frangos, mas vê quatro codornizes e pede para as levar em vez dos frangos e faz menção de sair. O empregado informa-o de que ele não pagou as codornizes. Ele responde: “Eu não comprei as codornizes: troquei-as pelos frangos.” Diz o empregado: “Mas também não pagou os frangos.” “O Sócrates” responde: “Mas também não os estou a levar, pois não?”)

Dispõem do verão para “meter água a céu aberto” à conta do munícipe (e da região), o mesmo tempo de que estes mesmos munícipes dispõem para se decidir a “fechar a torneira” a quem paradoxalm­ente, “mete água”, desperdiça­ndo-a.

Patrícia Brazão de Castro escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas

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