Jornal Madeira

Sem cultura

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A tarde já ia longa quando chegámos a São Jorge e encontrámo­s, num café no centro, Sandra Silva, que não hesitou em apontar o que naquela freguesia está por melhorar. Desde a falta de uma Casa do Povo ao encerramen­to do clube desportivo local e ao abandono e mau estado de alguns edifícios, como é o caso do centro de saúde, a moradora diz não ter outro remédio que não reconhecer que “São Jorge está esquecido”. “São Jorge não tem união. É só guerra entre partidos”, assinalou.

Para além destes problemas, Sandra Silva chamou ainda à atenção para o facto de os jovens, que são cada vez menos, não terem o que fazer naquela localidade. “Para a juventude não tem nada e depois não querem que os jovens saiam daqui. Qual é o ponto de encontro dos jovens agora? Tascas, bares e miradouros. Acho isso mal”, lamentou, acrescenta­ndo ainda que o pouco investimen­to em eventos culturais é outro motivo de preocupaçã­o. “O que é que tem de cultura aqui? Nada. Não tem peças de teatro, não tem orquestra. Agora, estão a fazer o

Museu do Barroco e ainda bem”, afirmou, garantindo que “há muito talento em São Jorge”.

Já no café ao lado, um outro residente, que preferiu manter o anonimato, recordou que, em breve, a escola, entretanto encerrada, será transforma­da num lar para idosos, o que não deixa de denunciar a realidade que se impõe nesta localidade. Ao JM, confessou apenas que, para já, o grande anseio dos fregueses é a abertura da via expresso. “As pessoas sofreram um bocado por causa disso. Chegou a Santana, mas para chegar aqui… agora estão a fazer, mas houve uns anos que não fizeram nada. É mais isso que preocupa”, apontou.

Continuand­o a percorrer a freguesia, a última paragem foi o Miradouro das Cabanas, onde a nossa equipa de reportagem se pôs à conversa com Agostinho, cuja presença já é mais do que habitual neste ponto turístico, onde vende aquilo que planta.

“A freguesia parece que também não anda. Não evoluiu. São Jorge não tem fábricas, não tem hotéis, não tem nada. Os mais novos têm de emigrar ou deitam-se na malandrage­m”, denotou o produtor, dando conta de que nem a agricultur­a vive tempos fáceis.

“A produção não foi boa. Aquelas chuvas estragaram muito. A floração abrasou. Foi um ano bastante difícil. Já tive morangos que apanhava até dezembro, este ano a colheita já está a acabar. E os subsídios também não são grande coisa para o agricultor”, sublinhou, apontando ainda para uma outra necessidad­e: “que os que mandam tenham mais um pouco de consciênci­a”.

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SÃO JORGE
O abandono de alguns espaços é motivo de indignação para alguns residentes. SÃO JORGE

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