Em residência artística no Funchal
A atriz, encenadora e criadora que regularmente encontramos nos palcos e nos ecrãs (ou nas ruas, de megafone em punho), vai estar na Madeira entre 19 e 23 de julho para desenvolver uma investigação sobre trabalho doméstico em Portugal.
Investigação vai contribuir para a criação do espetáculo ‘Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa’, com estreia prevista para novembro, que sobe ao palco do Baltazar Dias em fevereiro de 2022.
oi do título ‘Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa’, que Sara Barros Leitão “clandestinamente” roubou a um dos textos que compõem o livro ‘Novas Cartas Portuguesas’, que partiu a ideia da sua próxima criação, que incidirá sobre trabalho doméstico.
É nesse âmbito que a atriz, encenadora, criadora, assistente de encenação e dramaturga, que no final do ano passado venceu o primeiro Prémio Revelação Ageas Teatro Nacional D. Maria I, galardão que reconhece e promove talentos emergentes no panorama teatral, vai estar em residência artística no Funchal entre os dias 19 e 23 de julho.
A obra escrita em 1971, por Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno, serve de alavanca para o projeto que irá envolver muita pesquisa e investigação no terreno através de uma série de residências artísticas, com passagem pela Madeira, para ouvir testemunhos de trabalhadoras domésticas.
Um extenso processo de criação vai resultar num espetáculo que pretende “tirar da invisibilidade as mulheres, os seus trabalhos, as suas lutas, as suas conquistas, o seu pensamento”, explica a criadora. A peça tem estreia prevista para novembro de 2021, e estará em cena no Teatro
Municipal Baltazar Dias (TMBD), em fevereiro de 2022, com a co-produção da Câmara Municipal do Funchal.
A investigação tem como ponto de partida uma análise de documentos e arquivos da criação do primeiro Sindicato de Serviço Doméstico, em Portugal, que teve o seu primeiro congresso em 1979, num clima de desconfiança, até na CGTP, por ser constituído apenas por mulheres.
Atualmente, estima-se que existam mais de 70 milhões de trabalhadoras domésticas em todo o mundo. Estruturalmente atribuído à mulher, o trabalho doméstico “é uma atividade não reconhecida e uma das profissões que mais carece de regulamentação” e “uma das últimas formas de exploração e, em muitos casos, escravatura”, aponta Sara Barros Leitão.
Sendo considerável o avanço da igualdade de género nas últimas décadas, a pandemia e o confinamento vieram colocar em causa um progresso que facilmente se inverte. Há, inclusivamente, vários estudos e alertas lançados para a sobrecarga de trabalho em atividades domésticas e familiares a que as mulheres estão sujeitas neste contexto, sendo já “uma preocupação o possível retrocesso nos direitos da igualdade de género, estimando-se que, numa família heterossexual, se algum dos membros precisar de abandonar o emprego, será a mulher a fazê-lo”.
Colocar as políticas sobre o trabalho doméstico em discussão e contar a história das mulheres e do trabalho doméstico de uma forma participada e coletiva são os objetivos de todo o processo desta artista “difícil de domesticar”, formada em Interpretação pela Academia Contemporânea do Espetáculo que, em 2020, fundou a estrutura artística Cassandra, para desenvolver os seus projetos.