SESARAM quer ir mais longe no campo da tecnologia
Em entrevista ao JM, Júlio Nóbrega reiterou a importância de apostar na digitalização da saúde e garantiu que a Madeira está na vanguarda da inovação tecnológica.
A Madeira está na vanguarda da inovação tecnológica ao nível dos cuidados de saúde. Quem o garante é Júlio Nóbrega, diretor clínico do Hospital Dr. Nélio Mendonça, que, em entrevista exclusiva ao JM, deu conta de alguns dos passos que o Serviço Regional de Saúde tem procurado dar no campo tecnológico, de forma a assegurar uma prestação assistencial aos doentes cada vez mais sofisticada e de qualidade.
“Estamos a assinalar o aniversário do SESARAM e o que se faz hoje em dia é complemente diferente do que se fazia há uns anos”, começou por apontar o responsável, dando o exemplo da área cirúrgica.
“Hoje fazemos cirurgias com equipamentos altamente diferenciados, com muito rigor”, apontou ainda.
Mas a aposta na inovação tecnológica não se fica pelos novos equipamentos e técnicas de tratamento, assegura. Outros dos exemplos deste encontro entre o mundo tecnológico e o da saúde é o investimento no projeto Icu4covid, uma iniciativa europeia à qual o SESARAM concorreu no ano passado e que promete dar um passo à frente no tratamento de doentes à distância.
Conforme deu a conhecer ao JM o responsável, este trata-se de um projeto de telemedicina aplicado aos cuidados intensivos, sobretudo aos doentes covid, tendo a Madeira sido a primeira unidade ao nível da Europa a montar esta tecnologia.
“Percebemos que para prestar cuidados ao doente muitas vezes era só observar e que não temos de entrar na enfermaria e de nos aproximar do doente, porque aumenta o risco de nos infetarmos ou de o infetar. Então desenvolvemos um projeto que é o de colocar uma consola, que se chama ‘Mona’, que é um ecrã colocado junto ao doente, num braço articulado, que faz uma imagem grande angular de 180 graus e que mostra o que se está a passar com o doente e à volta dele”, explicou.
E, de facto, enquanto de um lado estava o doente e o ‘Mona’, do outro estava o JM e Júlio Nóbrega no chamado cockpit central, a partir do qual era possível verificar ao pormenor o estado de saúde daquele utente sem sequer nos aproximarmos. O que unia os dois espaços distantes era apenas uma pequena imagem, mas um grande salto na prestação de cuidados.
“Esta é uma fase experimental. Queremos instalar 30 ‘Monas’ nas 30 camas de cuidados intensivos que vamos montar”, revelou o diretor clínico, notando que, neste momento, já estão em funcionamento quatro ‘Monas’ no Serviço de Urgência, quatro na área covid e um no Porto Santo, na sala de emergência. “Quando o doente chega com uma doença grave, o médico pode pedir a colaboração do médico intensivista que está na Madeira”, exemplificou.
Mas a ideia é ir mais longe, reitera Júlio Nóbrega. “Desafiámos os projetistas a transformar aqueles ‘Monas’ numa central de monitorização dos doentes. Ou seja, não faz só imagem, mas também o traçar eletrocardiográfico, da tensão arterial, a pressão dentro da cabeça… E quisemos fazer isto um pouco à moda da ‘Siri’. Dizemos “Mona, mostra-me o raio x do doente…’, ‘Regista que o doente tomou o medicamen
to tal…”. Ainda não conseguimos fazer isto, mas é possível”, disse.
O passo seguinte será o de apostar na inteligência artificial, como já é feito na área da ventilação artificial. A intenção é que o ‘Mona’ seja capaz de consultar o processo clínico do doente, avaliar as suas necessidades e ajustar o tratamento a essas mesmas. “Isto ainda não é real, mas vamos chegar lá. Acho que ainda este ano vamos ter isto”, aditou o profissional de saúde.
Digitalização da saúde
No campo da inovação, Júlio Nóbrega não deixou ainda de reiterar a importância da digitalização da saúde, nomeadamente através da criação do processo clínico único, de forma a evitar a duplicação de exames e a perda de informação entre unidades de saúde.
“Hoje em dia não há papel. Todo o processo do doente é eletrónico e todos os dados estão no computador”, lembrou, apontando que esta digitalização será ainda importante para assegurar a recuperação da atividade clínica adiada devido à pandemia.
Concretizando este processo de uniformização, esclarece o responsável, o utente poderia mais facilmente deambular entre os setores público e privado de saúde, de acordo com a sua preferência, apenas tendo que dar o seu consentimento para que o médico possa aceder ao seu processo.