Suicídio atinge, em média, 21 pessoas por ano
Na Região, esta problemática verifica-se com maior frequência na faixa etária dos 45-64 anos, sendo a maior parte das vítimas do sexo masculino. Já entre os mais jovens, a taxa de suicídio é residual.
Realizam-se hoje as III Jornadas de Prevenção do Suicídio e Comportamentos Autolesivos, sob o tema ‘A Arte de Viver’.
SAÚDE
Na Madeira, entre 2010 e 2019, morreram, em média, 21 pessoas por ano devido ao suicídio. No entanto, antes deste período (entre 2002 e 2008), a RAM chegou a registar uma das taxas de mortalidade mais elevadas do País, segundo dados oficiais do INE. Esta tendência inverteu-se sobretudo a partir de 2011 e desde então o arquipélago madeirense tem conseguido manter-se abaixo da média nacional, sendo a única região do País que conseguiu baixar substancialmente a taxa de suicídio.
Isso mesmo apontou ao JM o Grupo de Trabalho da Prevenção do Suicídio do SESARAM, coordenado pelo médico Carlos Mendonça, por ocasião do Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, que se assinala hoje, dia 10 de setembro.
De acordo com este grupo, a diminuição da ocorrência de suicídios na Região deveu-se, em parte, ao investimento realizado em 2008 com a criação do Departamento de Saúde Mental, “que veio inspirar os serviços de saúde mental futuros da RAM”.
“Este departamento permitiu o arranque das equipas concelhias de saúde mental o que levou a uma abrangência dos cuidados de saúde mental na comunidade traduzindo-se numa alavanca muito importante. Isso permitiu que algumas pessoas que estavam por diagnosticar e tratar começassem a beneficiar de cuidados de saúde”, destacou Filipa Gomes, psicóloga no serviço de Psiquiatria do SESARAM e membro deste grupo de trabalho.
Já no que concerne aos motivos por detrás destas lesões autoprovocadas intencionalmente, as doenças psiquiátricas continuam a ser, de longe, o fator que mais contribui para o suicídio, com especial destaque para a depressão e o alcoolismo. A estas acrescentam-se outros fatores de risco como o isolamento/ ausência de suporte social, o desemprego, história de trauma ou abuso, ruturas relacionais significativas e o sofrimento emocional agudo, por exemplo.
E se estas condições já eram comuns nos tempos pré-pandémicos, a atual situação epidemiológica poderá vir a agravar ainda mais esta problemática, já que no último ano se verificou um aumento da venda de bebidas alcoólicas, prevendo-se que possa haver um agravamento dos problemas ligados ao álcool. Ademais, aponta a profissional, “nos últimos meses, estudos nacionais e internacionais confirmaram um aumento significativo dos níveis de stress e do sofrimento psicológico (ansiedade, medos, insónia, pesadelos, irritabilidade, desanimo, desesperança…) na população”, o que, uma vez mais, poderá elevar a ocorrência destas situações.
É desta forma que Filipa Gomes sublinha a importância de se estar “atentos à maior vulnerabilidade provocada pelos efeitos da pandemia (social, económica e psicológica), quer em termos atuais, quer nos anos que se avizinham”. “É previsível que possa haver um aumento de comportamentos autodestrutivos associados às sequelas económicas da pandemia (falências, perda de emprego e de poder de compra, carências habitacionais ou mesmo alimentares) como foi demonstrado em depressões financeiras passadas”, alertou, chamando ainda à atenção para “a possibilidade da situação se agravar, independentemente dos imperativos do Plano de Recuperação e Resiliência de alocação obrigatória de recursos à ‘saúde mental’”.
Tendo em conta esta realidade, o Grupo de Trabalho da Prevenção do Suicídio considera ser crucial que o esforço dos profissionais de saúde mental se mantenha. “As equipas de saúde mental nos centros de saúde são o recurso mais poderoso que temos para prevenir o suicídio. Os dados de que dispomos apontam fortemente nesse sentido e a bibliografia assim o confirma”, destacou.
Suicídio entre jovens é residual
No concernente à incidência do suicídio, este Grupo de Trabalho revelou ao JM que na Região esta problemática verifica-se sobretudo na faixa etária dos 45-64 anos, sendo a maior parte das vítimas do sexo masculino.
Já no que toca aos mais jovens, entre 2002 e 2019 não se registou qualquer caso de suicídio em pessoas com menos de 15 anos, para além de que o número de suicídios entre os jovens de 15 a 24 anos “é residual”.
“Nestas faixas etárias surgem mais frequentemente os comportamentos autolesivos, que são comportamentos sem intencionalidade suicida”, explicou Filipa Gomes, ressaltando a importância dos programas escolares promovidos pela DRE e aplicados nas escolas para o desenvolvimento de competências protetoras de comportamentos autodestrutivos.
Quanto ao trabalho desenvolvido pela Região no campo da saúde mental, a psicóloga relembrou que a Madeira conta com uma série de iniciativas promovidas por diversas entidades a este nível, dirigidas quer ao público em geral, quer aos próprios profissionais de saúde.
“Este ano terão lugar as III Jornadas de Prevenção do Suicídio e Comportamentos Autolesivos, hoje, Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, sob o tema ‘A Arte de Viver’. “O foco será numa perspetiva de prevenção e promoção da saúde através da arte”, revelou a profissional.
Além do mais, em junho de 2021, este Grupo de Trabalho procedeu à criação e implementação de uma Consulta de Suicidologia no Serviço de Psiquiatria.