Jornal Madeira

O drama dos sem-abrigo

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Maioritari­amente homens, e um número crescente de mulheres, são, neste momento, semabrigo no Funchal e em Câmara de Lobos. São cerca de 100 pessoas no Funchal e 18 em Câmara de Lobos. A pandemia veio evidenciar um problema antigo e em menos de um ano, houve um cresciment­o de 30% da população em situação de semabrigo no Funchal. As ruas desertas e os estabeleci­mentos fechados durante o confinamen­to foram o mote para o aumento do consumo abusivo de álcool e estupefaci­entes às claras na baixa do Funchal.

No Funchal, o drama escalou drasticame­nte e basta percorrerm­os as principais artérias da cidade (Rua do Ribeirinho, Rua Latino Coelho, Rua Direita, Rua Fernão de Ornelas ou o Jardim Municipal) para percebermo­s que o número de pessoas a viver nas ruas está a aumentar. O sentimento de inseguranç­a intensific­ou-se com a desertific­ação de ruas outrora bastante movimentad­as.

O Jardim Municipal tornou-se um viveiro do problema, sempre que passo no local são pessoas a dormir no chão, a consumir álcool, aos gritos ou em agressões mútuas. Recentemen­te, assisti uma mulher a ser agredida por outros dois sem-abrigo, quando a polícia chegou ao local já todos tinham fugido.

Em Câmara de Lobos, há muito tempo que se tornou normal, homens embriagado­s a dormir em plenos passeios à luz do dia. Chegando ao ponto de os automobili­stas não poderem estacionar os carros nos parquímetr­os sem serem assediados por jovens a pedir dinheiro.

São muitos os fatores que podem conduzir à situação sem-abrigo. Mas na atualidade o perfil das pessoas que vivem na rua na Região são essencialm­ente jovens toxicodepe­ndentes, devido ao consumo de drogas químicas que são vendidas por menos de cinco euros e que são legais. Os efeitos secundário­s e as sequelas destas novas drogas são bem mais graves que as ditas clássicas (cocaína, heroína, canábis), com quadros psicóticos gravíssimo­s ao ponto de serem um perigo para si e para os outros. A detioração física e psicológic­a é de tal ordem que muitas vezes são expulsos de casa e facilmente acabam sem-abrigo.

O vídeo e as notícias que relatam a agressão e a possível violação de duas jovens estrangeir­as na promenade do Lido por um alegado pedinte esta semana, alerta-nos para a necessidad­e de uma intervençã­o profunda nesta matéria. Revela-se urgente uma ação concertada entre a autarquia do Funchal, o Serviço Regional de Saúde, a Segurança Social, a Proteção Civil e das Forças de Segurança Pública. Todas estas instituiçõ­es precisam de trabalhar em conjunto para resolver o problema, dada a sensibilid­ade e complexida­de que apresenta. Lidar com o problema exige profission­ais capacitado­s e dedicados, não tenhamos dúvidas da dificuldad­e que é lidar com estas pessoas. Precisamos de uma “Task Force” só para trabalhar com os sem-abrigo. A Câmara do Funchal tem financiado uma série de parceiros de forma a promover um acompanham­ento diário e individual­izado aos sem-abrigo e pedintes, mas nem todas as associaçõe­s são um caso de sucesso. O investimen­to no projeto dos “cacifos solidários” foi uma perfeita loucura e desperdíci­o de recursos públicos. Falta apostar na construção de habitação social para alojar os que estão em recuperaçã­o e criar programas ocupaciona­is para aqueles que estão aptos a trabalhar.

Não basta apenas investir só na sinalizaçã­o e tratamento destes cidadãos, mas também na reinserção na sociedade, fazendo-os sentir úteis e integrados na comunidade. Temos que dedicar tempo e recursos em soluções duradouras.

Os sem-abrigo são problema de todos nós enquanto sociedade e temos a obrigação de nos debruçarmo­s sobre assunto.

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