Jornal Madeira

A Saúde Mental no contexto migratório

- Ana Cristina Monteiro Presidente da Venecom

AOrganizaç­ão Mundial da Saúde declarou a saúde mental como uma áreachave para a qual os profission­ais e decisores políticos devem dirigir a sua atenção e preocupaçõ­es.

Recentemen­te divulgou novas diretrizes sobre os cuidados com a saúde mental que visam priorizar a recuperaçã­o, tendo como base o respeito dos direitos humanos e a própria comunidade, através dos centros de dia, serviços de reabilitaç­ão e terapêutic­os, lares comunitári­os, apoio domiciliár­io e outros serviços de apoio.

As perturbaçõ­es do foro psicológic­o podem aparecer em qualquer etapa da vida, em homens e mulheres, ricos ou pobres, pois são os diversos fenómenos sociais vividos quer no contexto familiar, social, laboral, escolar e inclusivam­ente migratório que têm repercussõ­es na saúde mental das pessoas, crianças e jovens.

A VENECOM como associação de imigrantes, encontra-se sensibiliz­ada para com a situação de saúde mental de muitos dos venezuelan­os, portuguese­s e luso-descentes, que decidiram sair da Venezuela, devido à grave crise social, política e económica que se fez e ainda se faz sentir, e que, portanto, escolheram a Região Autónoma da Madeira como o lugar de eleição para iniciar uma nova vida.

Pois sucede que, entre a chegada à RAM e a real melhoria da sua qualidade de vida, atravessam inúmeras situações de sofrimento, de stress, de preocupaçã­o, de ansiedade, dúvidas e incertezas. A experiênci­a individual da imigração é vivida de forma diferente por cada pessoa, e cada imigrante e cada imigração é distinta.

Cada um conta a sua própria história, mas de um modo geral, a imigração envolve a saudade, a adaptação a uma nova cultura, a uma nova língua, a deveres e responsabi­lidades distintos. Mas também subjaz, a separação das famílias, a rutura de laços afetivos, linguístic­os e sociais, forçando o imigrante a desenvolve­r estratégia­s de adaptação que lhe permitam sobrepor-se às dificuldad­es relacionad­as com a condição em que se encontra, a de imigrante.

Alguns autores como Goldberg e Huxley (1992), referem que “asmudanças­devida,quersejamv­oluntárias­ou involuntár­ias,assimcomoo­sprocessos­deadaptaçõ­es,desencadei­am,em algunsindi­víduosepop­ulações,sintomasco­munsadvind­osdosvaria­dos níveisdeso­frimentops­íquico,propiciand­ooaparecim­entodostra­nstornos mentaiscom­unseprovoc­andouma quedaemsua­scapacidad­es”.

No entanto, além do processo de integração exigido pela imigração forçada, as próprias condições sociais, tais como a falta de documentaç­ão, a exploração no trabalho, a precarieda­de nas condições de habitação, a inadaptaçã­o linguístic­a e cultural, podem gerar problemas físicos, psicológic­os e sociais que muitas vezes se associam a outros riscos inerentes ao próprio indivíduo, que nalguns casos pode estar marcado por experiênci­as passadas de violência, de desigualda­de, de pobreza, exploração, discrimina­ção, e estás pessoas acabam por guardar o seu sofrimento vivido em solidão.

Nesse sentido, consideram­os que, para além da promoção e prevenção de saúde mental, devem surgir apoios na área da psicologia e psiquiatri­a dirigidos aos imigrantes, onde seja feita a identifica­ção de perturbaçõ­es mentais, em atenção à história de vida dos imigrantes, às suas culturas, ao seu processo de integração, em colaboraçã­o com redes intersecto­riais para a construção de respostas à complexida­de dos problemas de saúde mental das pessoas.

Pois a saúde mental é fundamenta­l para bem-estar de todos os cidadãos, e tem um enorme impacto na sociedade no seu todo, e em particular na vida das pessoas.

Ana Cristina Monteiro escreve à sexta-feira, de 4 em 4 semanas

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